Comédia em Portugal

Um olhar sobre a Comédia em Portugal.

quinta-feira, abril 05, 2007

Maria Vieira

Maria Veira já arranjou trabalho. A actriz regressará ao activo em ‘Sempre em Pé’, da RTP 2, que estreia dia 10.

“Finalmente, vou fazer humor de pé”, revelou a actriz ao CM. “Vou para um formato que me quer ‘sempre em pé’ e, ainda por cima, a fazer stand up [em tradução livre significa ‘de pé’], depois de passar nove episódios do ‘Hora H’ [SIC] deitada”, afirma Maria Vieira.

A actriz foi convidada para participar no ‘Sempre em Pé’ – entrará no segundo programa, a emitir dia 17 de Abril –, precisamente um dia depois de abandonar o ‘Hora H’, ou seja, no dia 19 do próximo mês. Maria Vieira estava descontente com a estagnação da sua personagem, ‘Dona Coisinha’, que “passava os episódios todos deitada no chão a arfar e tinha muito poucas falas”. Depois de se queixar a Herman José e às Produções Fictícias, responsáveis pelos textos, os actores concluíram que ‘Dona Coisinha’ deveria “experimentar a verticalidade” no nono episódio, mas “tudo ficou na mesma”. Por isso, e “pela primeira vez na vida, deixei um trabalho a meio”, refere Maria Vieira, que trabalhou durante 20 anos ao lado do humorista e, agora, regressa para junto de Luís Filipe Borges, que apresentava ‘A Revolta dos Pastéis de Nata’.

terça-feira, março 20, 2007

ENTREVISTA COM MIGUEL ESTEVES CARDOSO

ENTREVISTA COM MIGUEL ESTEVES CARDOSO

A Causa das Crónicas

Chegámos a casa de Miguel Esteves Cardoso, no Estoril, a dois passos do Casino, com o apoio de um mapa sacado do Google Earth – cortesia do representante da editora Assírio & Alvim, que acaba de publicar A Minha Andorinha, o seu novo volume de crónicas, sucessor de Explicações de Português (2001). Depois de vários dias de intempérie, a tarde estava extraordinariamente azul e amena, uma espécie de intrusão primaveril no Outono, como que a provar a tese várias vezes repetida por MEC nas suas crónicas: a de que temos um clima mais do que perfeito, pelo qual não sabemos estar gratos.
À entrada do apartamento, uma pilha de números antigos de revistas americanas – Saveur, Vogue, Vanity Fair – que os visitantes podem levar à saída. O Miguel recebe-nos na sua biblioteca caótica, o esconderijo onde tem passado a maior parte do tempo, nestes últimos anos de retiro mediático, a ler, a escrever e a navegar furiosamente pela Internet, entre blogues, sites de gadgets e lojas virtuais de música mp3.
Em cima da mesa, à nossa frente, várias garrafas. Experimentamos o panettone com moscatel de Setúbal (Bacalhôa). O Miguel explica que em Itália lhe ensinaram a misturar as duas coisas na boca, o bolo e o licor, para proveito das papilas gustativas. Há também uma tablete de chocolate “de esquerda”, politicamente correcto porque a marca respeita os direitos dos agricultores e o equilíbrio ambiental, mas nem por isso – diz MEC, irónico – menos “excelente”.
Enquanto os outros gatos se dispersam pela casa, assustadiços e esquivos, o Agostinho, persa branco acinzentado, assiste à conversa com a comiseração que os felinos dedicam aos assuntos humanos.


Há cinco anos que não publicavas um livro de crónicas. Porquê um intervalo tão grande? Andaste desaparecido?
A percepção de nós próprios não é bem essa. Uma pessoa não desaparece. Mas, para os outros, é como se desaparecêssemos sempre que não estamos a lançar livros ou a fazer coisas. Lembro-me daquela pergunta recorrente...

O que é feito do MEC?
“O que é que aconteceu nestes últimos anos? Você está morto? Por onde é que você anda?” São perguntas ontologicamente engraçadas. Há muitas respostas. Estive a fazer um intervalo. Estive retirado, como o Leonard Cohen no budismo.

Um retiro sabático?
Não. Ia escrevendo as minhas crónicas e em Maio do ano passado tive um susto enorme. Fui parar ao hospital com uma coisa horrível no fígado, daquelas em que se fica à beira da morte. Isso obrigou-me a uma pausa. Tive que deixar de beber, porque bebia imenso. E recuperei. Foi só esse o hiato. Quando uma pessoa está à beira da morte, passa a ver as coisas de uma maneira um bocado diferente.

Sentiste que tinhas pisado o risco?
Sim. Eu bebia de manhã à noite, todos os dias, sempre. Não havia um momento em que não estivesse a beber, todas as bebidas que possas imaginar. Nunca ficava bêbedo, mas estava sempre a beber. Com a comida acontecia a mesma coisa. E é óbvio que o fígado se ressente...

Foste vítima do teu lado hedonista.
Não. Era outra coisa. Era a gula, era não ser capaz de parar. Era querer provar tudo, mesmo sabendo o mal que aquilo representa para o corpo. O que tem muito a ver com as drogas. Drogas legais e drogas ilegais. A cocaína, um problema do caraças que tive durante muitos anos. Problema alegre que depois se torna um problema horrível. E todas as outras drogas que possas imaginar, excepto a heroína e o haxixe. Uma espécie de gula transcendental.

E agora estás a pagar a factura.
Estou a pagar a factura, a conta do bar.

Não te arrependes?
Arrependo, claro. Então não me arrependo. Fodi a saúde toda. Arrependo-me imenso. Se tivesse tido um bocado de juízo...

Há pessoas que são muito regradas, muito certinhas, comem peixe cozido, bebem só meio copo de vinho tinto ao jantar, querem viver até aos noventa anos. E há outras pessoas que preferem viver a vida a fundo, mesmo que arrisquem morrer aos cinquenta...
Foi assim que eu vivi a minha vida.

Mas agora mudaste radicalmente. Agora também queres viver até aos noventa.
Eu devia estar morto, não é? Devia ter morrido. Mas não morri. Então deixei de fumar, estou numa espécie de limbo, por ter voltado à vida. Tenho muito mais cuidado, bebo muito menos.

Não me digas que te vais transformar num daqueles convertidos ao higienismo, com tendência para a repressão quase fascista dos prazeres de que abdicaram...
Isso não. Tenho imensas saudades de fumar, por exemplo. Mas não fumo. Porque eu fumava que nem um cavalo. Oitenta cigarrilhas por dia. A questão é que eu gosto imenso da vida. Sou muito feliz. Desde que casei, então, felicíssimo. E esta experiência da quase morte faz com que aprecies outras coisas... Ver um azul do céu, essas merdas. E os dias. Começas a apreciar a vida, a respiração, acordar bem-disposto, a água do banho. Enquanto antes eram só coisas adquiridas, livros que compravas, drogas que arranjavas, whiskeys que tinhas em casa. Os prazeres eram todos caçados por ti. Ias buscar este jornal, fazias a marguerita com a tequila, snifavas a coca, mandavas vir da Amazon Books não sei quê. Todos os teus prazeres eram coisas que tinhas comprado. Depois do susto da morte, e se todas as pessoas que têm uma experiência destas o referem por alguma razão é, depois do susto da morte os prazeres deixam de ser esses. Passa a ser o barulho de um carro a passar. O tique-tique. O estarmos aqui. Este castanho em cima do branco.

Alegrias simples.
É estares vivo, pá. Estando morto não fodes, não fumas, não bebes. De certeza. Porque eu ainda posso fumar, se me apetecer. Não fumo há um ano e tal, mas tenho ali charutos. Se quiser, fumo. Isso anima. Se me acontecer uma grande desgraça, se explodir uma bomba aqui ao lado, foda-se, vou acender um cigarro. Posso. Agora, se estiver morto, não posso. Parece um truísmo, mas é muito importante. O estar vivo... Podermos arrancar os dois para a Argélia amanhã, se nos der na veneta. Isso é muito bom.

Depois do caos, atingiste uma espécie de equilíbrio.
A arte está em tu abusares enquanto podes. Porque o corpo permite grandes abusos. É uma coisa fabulosa, o corpo. Estou a falar em geral, porque há pessoas com azares. O corpo deixa-te ser um bruto. Podes ser bruto com ele durante a juventude. Lá está, quando se é novo. Se tiveres vinte anos, podes fazer muita asneira, o corpo está tão fresquinho e tão bom, tudo a funcionar tão bem, o coração, o fígado, tudo tão mimoso, os intestinos, a vesícula, tudo perfeitinho. Mas tem que se fazer nessa altura, não podes guardar para mais tarde. Aquilo estraga-se naturalmente, mesmo sem beber.

Aos trinta e tal anos, já não se vai a tempo.
Não. Tem que ser enquanto se é novo. Há uma ciência da vida.

E tu não conseguiste gerir essa ciência?
Não, não geri nada bem, pá. Geri mal porque agora posso beber muito poucochinho. Geri mal porque gostava de beber muito mais do que bebo. Chegando aos 35, devia ter baixado um furo. Só beber à tarde. Ou só à noite. Ou só uma garrafa em vez de três.

É disso que te arrependes?
Sim. Devia ter bebido uma garrafa de vodka em vez de três. Mas de qualquer modo, importa termos um bocado de respeito pelo organismo, porque ainda há século e meio a esperança média de vida das pessoas era 34 anos. Nós não fomos criados para andar aqui mais do que quarenta anos, no máximo, tudo o resto já é esquisito. Os órgãos não foram concebidos para durar sessenta anos, ou setenta, ou oitenta. A questão agora é procurar o tal equilíbrio de que falavas. Não a cobardia extrema de dizer “já não bebo mais, quero emagrecer, vou entrar na linha”, porque isso transforma-se num pavor da morte. E então é a mesma coisa que estar morto. Se tens o fígado todo fodido e estás a beber, é claro que está mal e que era melhor que não bebesses nada. Mas se vives nesse pavor, estás tramado.

Entretanto, apesar desses problemas todos, voltaste a publicar crónicas com um ritmo semanal, no DNa.
O DNa representou uma coisa que nunca tive antes e nunca mais voltei a ter. Uma maravilha, uma coisa de sonho: poder escrever o que quisesse, como quisesse, no espaço que quisesse. Era o paraíso. E bem pago, ainda por cima. Tudo coisas que deixaram de existir na imprensa portuguesa, tal como está hoje.

Quais são as diferenças entre o MEC actual e o MEC que há precisamente duas décadas editou A Causa das Coisas?
Agora tenho cinquenta anos. Quando comecei a escrever nos jornais, tinha vinte e tal. Eu acho que o escritor tem que ser verdadeiro, tem que transmitir aquilo que é. Agora sou um velho. Pior, estou naquela idade complicada em que já se deixou de ser jovem mas ainda não se é suficientemente velho.

Muitas pessoas insistem em dizer: “o MEC acabou”. Isso incomoda-te?
Não me incomoda absolutamente nada. Há uma determinante biológica na escrita. E as crónicas que publiquei quando era novo eram isso mesmo: as crónicas de um homem novo. Eu só sei que nessa altura, quando escrevia, tinha uma necessidade enorme de descrever situações e de contar coisas. Uma urgência. E agora já não tenho, já não tenho há muito tempo. Agora reflicto, penso muito. Só depois vou escrever. Dantes, estava perpetuamente indignado, sempre numa ânsia.

De certa forma vieste desbravar o caminho para quem veio depois...
Havia tanta coisa que estava errada na maneira de escrever, tanta coisa. E havia também uma certa ditadura de esquerda. Ditadura entre aspas, entenda-se. Uma maneira de olhar para as coisas e para a cultura que era muito formal, muito académica no mau sentido – académica no sentido de Academia das Ciências e Academia das Letras. Não se podia brincar, não se podia ser ligeiro.

O que só te incitava ainda mais a partires a loiça toda.
Sim. Naquela época, tu tinhas que ter inimigos. Tinhas que ser diferente. E eu consegui ser diferente. Porque, a verdade é essa, era fácil ser diferente.

Mais fácil do que é hoje?
Muito mais. Qualquer pessoa com o mínimo de talento, se estivesse no meu lugar naquela altura, teria feito o que eu fiz. Isto se não esquecermos um aspecto importantíssimo: o facto de já ser doutorado quando comecei a escrever na imprensa. Podia ter só 25 anos e andar de sapatos de ténis, mas era doutorado. As pessoas diziam: “Ah, é um sociólogo, professor doutor não sei quê...” Sem essa caução, não me safava. A minha defesa foi ser o gajo que tinha estudado em Inglaterra, o gajo que tinha lido como o caraças.

Era também contra essas mesuras, esses salamaleques, que tu escrevias.
Sim. Estava contra, mas com muita ternura. Quando digo que tive muitos inimigos, é mentira. Eu fui acarinhadíssimo, não me posso queixar. Digo inimigos no sentido virtual, como as crianças que têm amigos imaginários. E mesmo aquela coisa do “senhor doutor não sei quê”, a verdade é que eu acho graça a isso. Portanto não estava propriamente a denunciar... É uma denúncia, sim, mas uma denúncia amorosa.

Essa ambivalência é uma constante nos teus textos. Mesmo quando crucificas Portugal, vê-se que amas profundamente o rectângulo que nos coube em sorte.
Como tu amas, pá. Como todos os portugueses amam, acho eu. O que mostra o amor é o falar de. Obsessivamente. Alguém diz: “Não gosto de grelos, não gosto de grelos, não gosto de grelos.” Todo o dia a falar de grelos... Hmmm, há qualquer coisa ali com os grelos.

Nas crónicas que reuniste em A Minha Andorinha, alguns dos mais clássicos defeitos dos portugueses acabam por se transformar em virtudes: a procrastinação, a inveja, a desconfiança, a preguiça, o orgulho, a mania de conceber projectos impossíveis de concretizar, etc.
É como com o corpo da mulher que nós amamos. Ao fim de dois anos de observação atenta, descobres uma linha qualquer em que não tinhas reparado e não é o defeito que tu vês, mas uma coisa bela que tu encontraste, uma coisa nova. Ofusca-te e não vês o defeito. É um bocado isso o que acontece quando me ponho a analisar Portugal e os portugueses.

A mim, parece-me que o efeito de novidade da tua escrita nos anos 80 também se ficou a dever à ausência, por cá, de uma tradição anglófona e anglófila. Concordas?
Isso foi outra grande sorte que eu tive. Tive muitas sortes. A sorte académica e essa sorte imensa. Hoje em dia toda a gente percebe inglês, o que é uma coisa maravilhosa. Na altura quase ninguém percebia. Mesmo entre as pessoas cultas.

O sentido de humor, o wit, também era uma coisa completamente nova, não era?
Sim. E eu aproveitei a minha própria dificuldade de falar e escrever em português, porque a minha língua materna é o inglês, só aos cinco ou seis anos é que comecei a ter aulas de português. A minha incompetência linguística, mas gramaticalmente correcta, fazia com que parecessem inovadoras certas formas que são tipicamente inglesas.

Surgiam como liberdades criativas...
Pois. Mas a liberdade criativa é uma coisa mais portuguesa. A nossa língua permite mais jogos e brincadeiras, o inglês é mais rígido.

Quando atravessaste a tal fase complicada, há ano e meio, passou-te pela cabeça qualquer coisa do tipo: “se eu me for daqui, pelo menos sei que deixo uma obra”?
Passou-me pela cabeça, sim. E isto porque sempre tive muita pressa. No princípio, era muito ganancioso, escrevia em seis ou sete sítios ao mesmo tempo, trabalhava que me desunhava. Era muito rápido e muito precoce. Sempre fui muito precoce. A estudar. Na vida em geral. A ter filhos. Em tudo.

Disseste que já não tens a urgência dos vinte anos. É mais difícil para ti escrever uma crónica hoje do que era nessa altura?
Muito mais difícil. Porque hoje digo “vou escrever sobre a saudade” e já escrevi. “Vou escrever sobre os nomes das terras” e já escrevi. “Vou fazer não sei quê” e já escrevi. Tenho que escarafunchar imenso para encontrar qualquer coisa de que ainda não tenha falado.

E a disciplina imposta pela crónica semanal? Custa-te cumprir deadlines?
O que me custa cada vez mais é não ter espaço. Ser obrigado a escrever coisas curtas. Vai contra a minha natureza. Gostava muito de ser lapidar, mas não consigo.

A tua prosa é feita de acumulações, atalhos, derivas.
É uma prosa espalhada, uma prosa gorda.

E por isso precisa de espaço.
Precisa. Precisa de espaço para seguir os caminhos todos. “Eh pá, isto faz-me lembrar aquilo” e “aquilo” sugere-me mais não sei o quê. E eu tenho que ir atrás dessa memória, juntando material para fazer a teia. Gosto de uma crónica que comece e se vá abrindo cada vez mais para depois, mesmo no fim, com a pressa, “vê lá, tens que acabar no próximo parágrafo”, de repente consiga dar sentido aos fios todos que se levantaram.

Quando começas a escrever, tens um plano concreto do que será a crónica?
Tenho. Passo pelo menos um dia inteiro a pensar no que vou dizer, mas a pensar mesmo, entre dicionários e apontamentos. Muitos apontamentos. Um moleskine dá-me só para duas crónicas. E aproveito apenas uma pequeníssima percentagem dessas ideias. Uma vez em cada mil, quando faço menos apontamentos, consigo pôr tudo o que pensei dentro da crónica. Mas essas não são as que ficam melhor.

Por vezes sais-te com pequenos achados, como aquele de transformares substantivos (por exemplo, “lazer” ou “lar”) em verbos, com as respectivas conjugações.
Se tu pensares na palavra “lazer” durante oito horas, mais tarde ou mais cedo isso acaba por acontecer. Estás tão aflito, por andares às voltas com uma ideia não sei quanto tempo, que as fantasias se materializam naturalmente.

É óbvio que te preocupas muito com o estilo e essa preocupação pode ser um martírio, como explicava o Flaubert.
É um martírio, sim. Toda a gente que escreve crónicas para jornais aprende a aceitar o facto de que muitas vezes o que se entrega é uma merda.

Tens algum mecanismo de auto-avaliação para dizer “isto não presta”?
Sim, sim. Toda a gente tem. Mesmo no seu auge, uma pessoa entrega, no máximo dos máximos, uma crónica boa, sabendo que a seguinte vai ser uma merda, e a seguinte também, e a seguinte também. Ou seja, uma crónica boa em cada quatro. Estou a falar a sério. Já cheguei a pensar que a sequência média era: crónica boa, merda, crónica boa, merda. Mas não é. E se por acaso fizeres duas crónica boas, intervaladas com uma de merda, logo a seguir tens merda, merda, merda, merda, merda.

Após uma primeira vaga de influência na imprensa, nos últimos tempos inspiraste muita gente que escreve na blogosfera. Quase todos os melhores bloggers portugueses que estão na casa dos trinta anos se reclamam, de uma maneira ou de outra, herdeiros do Miguel Esteves Cardoso. Como se houvesse de facto uma geração MEC.
Isso é lindo, comovente. Há blogues fabulosos. Muitíssimo bem escritos. E tens pelo menos uns trinta com um nível francamente superior ao da nossa imprensa. Conheço os blogues americanos e os ingleses, mas acho os portugueses os melhores de todos, os mais bem escritos, os mais bonitos, de longe os mais poéticos.

Muitos desses bloggers são pessoas que na adolescência se fascinaram com o projecto d’O Independente, que aprenderam a gostar de jornais com O Independente. Como é que viveste o fim anunciado de um projecto que ajudaste a criar?
Já tinha vivido antes. A verdadeira morte d’O Independente aconteceu há muito, muito tempo.

Estava em coma.
Quem matou O Independente fui eu e o Paulo Portas. Quem tornou impossível a continuação daquilo foram as pessoas que fugiram. Os que abandonaram o barco. Acho hipócrita dizer que foi uma grande tragédia quando ninguém impedia as pessoas que lá estavam, entre as quais eu, de continuarem o projecto.

O facto de escreveres novamente no Expresso, que foi onde começaste a sério, teve algum aspecto simbólico para ti? É óbvio que as circunstâncias são diferentes, o jornal é diferente, o espaço em que escreves é diferente.
Sim, o jornal é diferente. Mas a maior parte das pessoas continuam lá.

Sentiste que foi uma espécie de regresso?
Sim, porra, claro que foi. Ainda por cima eles perdoaram-me. Foram impecáveis ao deixar-me voltar, porque eu fui-lhes infiel de várias maneiras. Sobretudo ao fazer O Independente. Embora tivesse saído sem conflitos. Sempre me trataram muito bem.

Achas que há espaço, hoje, para um jornal que represente o que o Indy representou nos anos 90?
Porque não? Tem é que ser na Internet. Um jornal exclusivamente web e gratuito, mas um jornal a sério.

Já não te sentes com energia para tomares a iniciativa?
Há uma idade para tudo. Eu já fiz o meu jornal. Eu já fiz a minha revista.

E fizeste os teus romances. Mas desde 1996 que não publicas ficção. É um capítulo encerrado ou apenas uma área da tua escrita que está suspensa?
Está suspensa. Tenho um romance bloqueado, enorme, que estou a reescrever. E tenho outros já prontos, inéditos.

Por que é que não publicas esses?
Porque o próximo romance tem que ser mesmo muito bom, tem que ser a sério.

Certos críticos colocaram algumas reservas à tua ficção. Isso pesa alguma coisa?
Nada. Eu sou um escritor. Escrevo de tudo, da publicidade aos fados. Orgulho-me disso. Orgulho-me de poder escrever um recado à empregada em bom português.

Há alguma crónica que tenhas adiado porque ainda não surgiu o momento certo para a escrever?
Então não? As crónicas da vida que me falta. A crónica da velhice ou da imobilidade, do já não poder mexer-me. Todas as crónicas até à crónica de estar à boca da morte. As crónicas de qualquer pessoa devem ter a ver com o tempo da vida. Eu estou sempre a falar nisto. É muito importante ter-se 25 anos quando se tem 25 anos. E ter cinco quando se tem cinco. E ser velho quando se é velho.

Como é que imaginas essa velhice?
Como um tempo de sabedoria. Uma sabedoria natural que tu acumulas sem te dares conta. Vais perdendo memórias, mas isso não é tão grave assim. Porque o fundamental não esqueces. As configurações do prazer, da culpa.

Essa sabedoria traz humildade?
Traz uma humildade absoluta que é a gratidão. A verdadeira humildade é uma gratidão. No sentido de “olha lá a sorte que eu tive”. Voltamos ao que disse lá atrás. Saber apreciar isto de estar vivo. Os objectos pequenos, o cheiro das coisas, a maneira dos gatos entrarem em casa. A riqueza do mundo, sem precisares de comprar seja o que for. Por exemplo, no outro dia descobri uma quinta, a Quinta da Ribeira, onde vendem pão embrulhado em cobertores, óptimo. Ainda não tinham apanhado as laranjas, porque é muito cedo. Mas estava lá o pomar. E eu atrevi-me e arranquei duas laranjas, mesmo quando ia a passar um padre que olhou para o chão, como quem perdoa, porque aquilo pertence ao seminário ou ao patriarcado, parece uma coisa do século XIX. Roubei essas laranjas, as primeiras laranjas do ano, sacadas por mim, com as folhas e tudo, mais a rama. Estive uma hora e meia à volta das laranjas, com a Maria João. Partimos os gomos e revisitámos todas as maneiras de comer laranjas. O prazer, o cheiro, aquilo tudo esmigalhado, o óleo a marcar os nossos braços. A comparação com outras laranjas. É uma coisa que só se pode apreciar aos cinquenta anos. Se tu fizeres isso agora, não chegas lá da mesma maneira. Falta-te a idade.

Há também o gozo da transgressão.
Claro. O prazer máximo daquilo esteve no facto de as laranjas serem roubadas. Eu sabia muito bem que estava a entrar numa propriedade privada mas disse: “olha, vou apanhar à mesma”. E o padre deve ter pensado para o seus botões: “coitado, olha-me aquele coxo a apanhar laranjas, o melhor é perdoá-lo”. Era um padre para aí com vinte anos, um padre lá do seminário. Olhou para o chão como no filme do Bresson. Ele a olhar para o chão e eu a roubar as laranjas. A fruta roubada é uma coisa de putos. Tem um sabor maravilhoso. Com a Internet é a mesma coisa: a euforia que dá fazer downloads proibidos... Lembro-me que me fartava de roubar livros com o meu irmão. Vestíamos uns casacos enormes, andávamos de canadiana em pleno Agosto, para meter mais livros nos bolsos. E o que não faltava lá em casa eram livros.

[Entrevista publicada na edição de 15 de Dezembro do suplemento 6.ª do Diário de Notícias]

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Hora H

O programa Hora H já está em marcha. O acordo foi ontem assinado entre o autor, Herman José, e director de programas da SIC, Francisco Penim. A partir de finais de Janeiro, e durante um ano, o humorista vai ter um espaço semanal (com dia a definir), de uma hora, para dar largas à sua criatividade.

"O Hora H será constituído por quadros humorísticos com Herman e companhia, com novas personagens e com novos maneirismos", resume o responsável da SIC. Mas o comediante quer ir mais longe a assume que vai "criar um formato polémico, catastrófico, que vai desafiar os poderes instituídos."

O acordo alcançado "em dez ou 15 minutos" fez com que Herman José deixasse de pensar na possibilidade de mudar de televisão. "Há dois anos estive em conversações com o Moniz, desta vez achei que não fazia sentido ter outro tipo de abordagem", relata. Já em relação à RTP, admite que sempre existiram "conversações informais e que seria uma bela hipótese para comemorar os 50 anos do canal público, caso a magia da SIC se tivesse quebrado", o que, pelos vistos, não aconteceu.

A pré-produção de Hora H, coordenada por Pedro Costa, subdirector da área de entretenimento, já começou e estão garantidos "os melhores cenários, as melhores pessoas e a melhor escrita" pelas Produções Fictícias, confirma Penim.

O elenco vai contar com a participação do grupo de actores que acompanha o humorista no Herman SIC. Mas o programa será também usado como "uma plataforma de talentos, porque para se manter o produto interessante não pode haver rotinas", assegura o autor.

As movimentações de actores devem-se também ao facto de alguns membros do elenco residente irem participar noutros projectos de ficção da estação, como Maria Rueff que irá integrar a novela Vingança.

O Hora H marca um ponto de viragem na carreira de Herman, que suspende o talk show Herman SIC a 17 de Dezembro com uma edição especial no circo, depois de sete anos no ar. "Já faltava originalidade", admite o apresentador, mas é um formato ao qual gostaria de voltar, porque, assume, está no limite de fazer "personagens novas e velhas" e não quer fingir que é novo. Assim, para Herman "a maneira mais feliz é fazer como o Jô Soares e assumir os cabelos brancos."

O primeiro programa já está delineado e "vai contar com a participação de Bárbara Guimarães no seu Páginas Soltas [ SIC Notícias] a pedir um livro favorito a Camões, que escolhe Paulo Coelho", revela Herman, rindo da sua própria irreverência.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Joaquim Monchique

Jornal de Notícias|Vai integrar o júri do programa "Aqui há talento". O convite marca o regresso à estação pública?



Joaquim Monchique|Bem, eu comecei na RTP, no programa "Grandes Noites" do Filipe La Feria e tenho com esta estação e com os seus responsáveis as melhores relações. No entanto, não vou regressar à RTP porque o meu contrato é com a produtora do "Aqui há talento" e não com a RTP.



Mas vai regressar aos ecrãs da RTP. Por que aceitou o convite?

Sim, vou regressar e estou bastante entusiasmado, porque acredito sobretudo na "filosofia", na qualidade e no interesse do programa. Quando me convidaram para integrar o júri eu já conhecia o formato, depois vi imagens do programa na França, nos EUA e na Austrália e confesso que gostei ainda mais.



Concorda então com programas deste género caça talentos. Acha que as nossas televisões deveriam ter mais formatos desse tipo?

Acho muito importante a realização de programas assim, porque é uma forma de desvendar os talentos. Há por aí muito boa gente fantástica, que sabe fazer coisas interessantíssimas e muitas vezes não tem oportunidade de as demonstrar. Julgo que se perde muito tempo em exibir programas sem história, em que as pessoas estão metidas numa casa à espera que aconteçam zangas e tricas, o que é um desperdício de tempo e de antena.



Nos últimos anos, deu a cara pela SIC, designadamente no programa do Herman. Saiu de relações cortadas com a SIC? E com o Herman José?

Não, de maneira nenhuma. Não corto com ninguém e muito menos com a SIC, onde tenho excelentes recordações e onde me diverti e trabalhei com muito prazer. Além do mais sou grande amigo da Teresa Guilherme, da Direcção de Programas, pela qual tenho muita consideração. E quanto ao Herman é um dos meus maiores amigos, falo com ele todos os dias e a nossa amizade é inabalável. Trabalhei com ele dez anos e, portanto, obviamente que continua a ser um dos meus grandes amigos. Nunca esquecerei a minha "família televisiva" que, além do Herman José, integra a Maria Ruef, o Manuel Marques, a Maria Vieira e a Ana Bola.



Não põe de parte voltar à SIC e a um programa do Herman?

Não, claro que não. Como já disse, não tenho vínculo com a RTP, agora vou fazer o "Aqui há talento", mas daqui a um ano já posso trabalhar de novo com o meu amigo Herman.



O seu futuro passa pela televisão? Sente-se bem no ecrã?

Eu gosto muito de fazer televisão e gosto principalmente de trabalhar como actor humorista, portanto, gostaria de continuar. Mas também confesso que tenho um sonho que é o de participar numa telenovela.



Nunca fez novela? O que o atrai nesse trabalho?

Nunca fiz e confesso que gostaria de participar, tenho muita curiosidade. Se porventura gostasse do papel que me atribuíssem, aceitaria. É um sonho meu.



Você é conhecido essencialmente pelo seu trabalho como actor humorista. Quer continuar nessa área?

Confesso que gosto bastante de fazer o que faço. O bem melhor que há é o riso e a seguir são as palmas, portanto, dito isto, naturalmente, que quero prosseguir neste divertido e fascinante mundo do humor.



Acha que em Portugal temos bons humoristas? Quem são eles?

Acho que sim, as pessoas gostam de rir e nesse sentido considero que se o humor tiver qualidade terá futuro. Também acho que temos muito bons humoristas e não posso deixar de destacar os "Gato Fedorento", que são, na realidade, formidáveis. Eu já os conhecia, porque muito do sucesso que nós obtivemos no "Herman SIC" deve-se a eles que eram os autores de muitos dos textos. Portanto, é evidente que considero que os "Gatos Fedorento" são, indiscutivelmente, a grande revelação e que vieram dar um impulso grande ao humor que se faz no nosso país.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Bruno Nogueira

Como descreves o espectáculo?

Em stand-up comedy nunca há muito para explicar, além dos temas que se vão revelando ao longo da peça. Quis fazer uma coisa mais trabalhada, era a minha possibilidade de fazer um espectáculo de minha total autoria. Chamei o arquitecto João Mendes Ribeiro, com quem já tinha trabalhado na peça Avalanche - tinha adorado os cenários dele. No guarda-roupa, socorri-me do Dino Alves. De resto, quis que fosse uma coisa minha. Tenho o apoio do João Quadros no texto. Tem um ?vivo? no princípio, outro lá mais para a frente. Agora é distribuir isso por uma hora e pouco de espectáculo.

Afastaste-te da televisão. A tua intenção é agora investir neste tipo de espectáculo?

Deixei de fazer televisão porque, hoje em dia, não consigo ver nenhuma coisa onde ache que ia acrescentar algo. Teatro e stand-up comedy são coisas que sempre fiz, paralelamente ou não à televisão. Além disso, um espectáculo como este exige muito tempo. Para criar tudo de raiz, para estar a escrever o texto há três meses e meio como eu estou, estar a ter ideias para luz e tudo o resto, requer algum tempo quando se quer fazer bem. E eu quero fazer bem.

Como nasceu a ideia?

Sempre quis fazer alguma coisa mais a sério. Mas quis que passasse um bocado a vaga da moda da stand-up comedy. Agora acho que já acalmou essa euforia, de aparecer um humorista debaixo de uma pedra em cada cinco minutos. Não temos um país para tanta coisa. Portanto, muitas das coisas que estão a aparecer é só lixo. Preferi que isso acalmasse e preparar uma coisa cuidada para quem gosta de me ver fazer stand-up comedy. E são essas pessoas que eu penso que virão ver o espectáculo.

O que representa este passo na tua carreira?

Isto representa um grande desafio, porque é estar a trabalhar sem rede nenhuma. Em primeiro lugar, porque o texto é meu e nunca foi testado. Eu e o [João] Quadros estamos tão envolvidos no texto que já não sabemos o que funciona ou não, o que só faz rir a nós.

Depois, como sou eu que estou a tomar conta da encenação, das luzes, de tudo, é um projecto totalmente meu. Não é megalómano, nem eu queria que fosse, porque se cair não quero cair lá muito de cima. Vou ser avaliado no dia de estreia. Quer corra bem, quer corra mal, já estou contente por ter conseguido juntar a equipa que juntei e por aquilo que consegui fazer.

Sentes-te pronto para o desafio?

Sinto-me um bocado nervoso, até porque não tenho ninguém a quem atribuir as culpas. Estamos sozinhos ali em cima, com toda a gente a olhar para nos e à espera que os façamos rir. Mas sinto-me preparado. Pelo menos agora sinto-me mais. Aqui há dois dias ainda estava um bocado em pânico.

Há público em Portugal para um espectáculo de stand-up comedy?

Tenho a certeza absoluta que há público para stand-up comedy. Há público para comédia, para bons espectáculos, para maus espectáculos. Há público para quase tudo. Só que as pessoas não são estúpidas. Vão ver uma vez, e depois o que funciona é o boca a boca. Se vão ver e não gostam, não vão dizer a outra pessoa que gostaram. Há muitas produtoras que insistem em dizer que há uma crise de público em Portugal. Não acho. Acho é que há espectáculos que são simplesmente maus.

Vais fazer um espectáculo mais de intervenção ou do riso pelo riso?

Há coisas que eu tento evitar, nomeadamente política e futebol. Não consigo fazer o chamado humor de ?tarte na cara?. Gosto de levar as pessoas a pensar, até porque sinto que elas ficam mais interessadas se virem que podem interagir. Serei interventivo em alguns temas, mais forte em outros. Em televisão é preciso ter jogo de cintura para agradar a todos. Aqui não tenho preconceitos nem filtros no que me apetece dizer.

Estás contente com o resultado?

Estou muito contente. Tenho pena de não ter começado a testar o espectáculo mais cedo, para saber como o poderia gerir melhor. Mas foi um processo muito duro de escrita e produção. Só tenho de acreditar em mim e nas pessoas que já vieram ver.

Tens agora esta temporada no São Luiz. Mais tarde, o espectáculo pode seguir para outros sítios?

Há duas coisas pensadas. Hei-de ir em tournée assim que acabar aqui no São Luiz. Já estamos a tratar disso. Depois, se correr bem, hei-de voltar aqui para fechar esta primeira metade do ano. Gostava de fechar no São Luiz, onde sempre me habituei a trabalhar e onde sempre me trataram tão bem.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

SIC Comédia termina de vez por falta de distribuidora

O futuro do canal SIC Comédia está traçado. Termina a 31 de Dezembro. A SIC não chegou a acordo com a Cabovisão, a segunda maior operadora nacional e a única que, neste momento, poderia oferecer condições que garantissem a sua sobrevivência.

"Confirma-se que não chegamos a acordo com a Cabovisão por questões de natureza financeira", disse ontem fonte do grupo Impresa, que detém a SIC.

Em final de Novembro, foi divulgada a saída da SIC Comédia da TV Cabo, a maior operadora nacional. Chegado aqui, a SIC anunciou que ia bater à porta de outras operadoras para garantir a sua distribuição. A oferta da Cabovisão era determinante, por ser uma empresa de forte implantação no mercado.

Refira-se que até 31 de Dezembro a SIC Comédia era negociada com as outras operadoras através da PT Multimédia, proprietária da TV Cabo. Assim que o canal saltou desta empresa - trocou o contrato que detinha até 2009 com a SIC Mulher - ficou a SIC com os conteúdos para negociar.

Francisco Penim referiu ontem à agência Lusa que o canal era "rentável, viável e com audiências". O director de Programas que coordena os canais temáticos salientou que o cancelamento da SIC Comédia foi uma "proposta" da TV Cabo. "Não era uma coisa que a SIC queria".

O contrato com a TV Cabo estava definido na dependência dos assinantes e não das audiências. Ontem, a TV Cabo recusou-se a comentar as declarações de Francisco Penim. Para justificar o cancelamento do canal, há 15 dias, apontou a complementaridade de conteúdos que oferecem outros canais.

Acrescente-se que a PT revelou, nos resultados relativos ao terceiro trimestre deste ano, que a TV Cabo perdeu 34 mil assinantes até Setembro. Comercialmente, a SIC Mulher também cativa mais publicidade, que é explorada pela TV Cabo. Os fãs de Conan O'Brien ou Jay Leno, humoristas que ali tinham os seus "talks shows" com exibição regular, tem manifestado o descontentamento em blogs e criou-se mesmo um abaixo assinado como forma de protesto. Entre os seus produtos mais fortes estão "Seinfeld", "Everybody Loves Raymond". Na produção nacional "Biqueirada" e "Prazer dos Diabos".O canal SIC Comédia inaugurou a 18 de Outubro de 2004, na posição que pertencia à SICGold. De acordo com a Marktest, em Novembro foi o 14º emissão mais vista em Portugal.


segunda-feira, dezembro 18, 2006

Carlos Moura

- O que o levou a entrar no Stand-Up Comedy??

Foi um acidente de percurso. No início de 2003, alguém me mostrou um anúncio sobre o 1º Festival de Stand-Up Comedy, em Braga. Como tinha experiência de rádio e teatro e gostava deste género de humor, decidi inscrever-me, mais com o objectivo de conhecer pessoas e de me divertir. A coisa acabou por ser muito mais a sério do que inicialmente pensei, com um júri de luxo presidido por Raúl Solnado. Acabei por ficar em terceiro lugar e conhecer muita malta da área...

- Foi difícil ingressar neste tipo de comédia e posteriormente, o passo que para apresentador de televisão?

Não foi difícil; pelo contrário, as coisas sucederam-se de forma quase contínua... Graças ao Festival de Stand Up, comecei a ser convidado para actuar em bares e auditórios, ao mesmo tempo que a SIC me lançou o convite para ir ao "Levanta-te e Ri". A partir daí e depois de mais de duas dezenas de actuações no "Levanta-te", as coisas aconteceram naturalmente. Fiquei bastante surpreendido quando me convidaram para apresentador de televisão... Mas é tudo uma espécie de sucessão de eventos naturais. Não foi difícil mas tem sido trabalhoso: a maioria das pessoas não se apercebe de que tudo isto significa trabalho e método... 15 minutos de Stand-Up são umas quantas páginas A4 de textos, que representam tempo e insistência, muitas notas e muitas, muitas horas de tentativas...

- Deixar a local onde nasceu para ir viver para Lisboa foi complicada essa adaptação?

Eu nasci em Moçambique e saí de lá com 2 anos, por isso não foi difícil... Agora a sério: eu, além de estar habituado a mudanças, gosto de Lisboa. É uma cidade com vida, com ritmo. E sinto-me bem, apesar das saudades de alguns amigos mais distantes.

- Soube que a sua carreira não se baseia apenas numa área restrita, para além de apresentador de televisão, humorista, já exerceu actividades completamente distintas, é verdade?

Sim, já fiz um pouco de tudo... Com 15 anos andei nas obras durante as férias para conseguir dinheiro para as férias... Desde então, trabalhei 10 anos em rádio, fiz fotografia (que ainda faço como hobbie) e trabalhei três anos como designer gráfico, que ainda considero a minha profissão paralela... Isto além de alguns biscates enquanto miúdo... Sempre gostei de me mexer, sei lá.

Que projecto tem em mente para um futuro próximo?

Muitos, espero conseguir concluir alguns deles... Para já, estou a preparar uma série de humor para a televisão, estou a acabar uma peça de teatro e tenho um livro em banho-maria. Além disto, continuo a fazer comédia Stand-Up, é uma espécie de ginástica que me apetece manter para ficar em forma.

Qual o seu objectivo máximo a nível profissional?

Fazer o que gosto e viver disso. Esse é o meu maior objectivo. Gostava de experimentar cinema, por exemplo. E de conseguir fazer com que as pessoas pensem em coisas sérias com um sorriso nos lábios.

- É difícil viver apenas do Stand-Up Comedy em Portugal?

É muito difícil. Não temos Clubes de Comédia, espaços especializados ou um circuito de actuações que garanta sustentabilidade, o que impede a existência de um fluxo seguro de rendimentos. Mas com algum jogo de cintura e algumas gargalhadas, a coisa aguenta-se. Mas pelo menos, é uma profissão divertida, mesmo quando só nós lhe achamos piada...

CARLOS MOURA - O perfil

Nome: Carlos Moura

Idade: 31

Signo: Balança

Prato Preferido: qualquer um na companhia de amigos

O que mais adora: sentir que estou a ser produtivo

O que mais detesta: sentir que não estou a ser produtivo

Alguém que admira: Douglas Adams