NILTON
Depois de uma vida bem ao estilo de um nómada, em que chegou a residir em Angola, no Algarve e na Beira Baixa, Nilton assentou arraiais em Lisboa e converteu-se numa das estrelas mais cintilantes da nova forma de fazer humor, a «stand up comedy».
Nilton diz que «os portugueses se riem deles próprios», agradece aos políticos, árbitros e dirigentes pela ajuda que dão aos que escrevem piadas em Portugal e até chega a admitir que, por vezes, «nem se consegue tempo para fazer piadas sobre tanto assunto».
O «entertainer» não se revê na concepção de «geração rasca» e acrescenta que se alguma juventude não tem valores, provavelmente isso resulta da falta de referências dos próprios pais.
Nasceu em Angola, cresceu em Proença-a-Nova, viveu no Algarve e reside agora em Lisboa.
Que recordações tem de África e da infância na Beira Baixa?
Vim de Angola com 4 anos, gostava de me lembrar das mulatas, mas não! Nada! Da Beira Baixa lembro-me das represas e praias fluviais onde passei muitos verões, das corridas de trotinetas que fazia com amigos que ainda hoje conservo e lembro-me também de duas morenas muito giras, mas agora não posso dizer os nomes porque já são casadas!
Como é que um «disco-jockey» (DJ) e um decorador de interiores acaba em humorista e num dos ícones da «stand up comedy»?
Profissionalmente, sempre fiz tudo o que me deu vontade. Quis fazer rádio, fiz. Quis ser DJ, fui. As decorações surgem ainda quando era DJ e para exteriorizar e colmatar o recalcamento de nunca ter tirado um curso de Arquitectura. No meio de tudo isto sempre escrevi. A «stand up comedy» e subida ao palco nasce quando começo a ter necessidade de dar vida aos meus textos. Ninguém os comprava e tornei-me cliente de mim próprio. O Nilton vende ao Nilton os textos que o Nilton escreve para o Nilton.
O Nilton foi um dos percursores da «stand up comedy» no nosso País. Pensa que esta forma de fazer humor tem futuro ou é uma moda passageira?
Acho que tem vida para além da morte, como aconteceu no estrangeiro. Brevemente iremos assistir a um assentar da poeira, que na minha opinião já se sente aproximar. O mercado não consegue absorver todos e muitos ficarão pelo caminho. Separadas as águas, ficarão os que mais trabalharem. Como a «stand up comedy» não é uma entidade estatal, penso que cunhas e sorte não ajudarão à triagem.
Costuma dizer-se que Portugal é um País cinzento e que tem dificuldade em rir. É difícil fazer humor?
Ser humorista neste país é como viver no paraíso, não estamos rodeados de 70 virgens como acreditam os suicidas palestinianos, mas estamos rodeados de portugueses, o que é garante de piadas para a eternidade. Se juntarmos isso ao facto do nosso povo rir de si próprio, meu amigo, somos uns privilegiados!
Há matéria prima ? política, desportiva e social ? suficiente para despertar a imaginação de um criativo para escrever guiões diariamente?
Onde é que o meu amigo tem andado? Atente para o que os nossos políticos, árbitros e dirigentes fazem em prol dos comediantes deste país...Não param! Às vezes até nem se consegue tempo para fazer piadas sobre tanto assunto. Aproveito mesmo para gratular publicamente a todos os que me coadjuvam e perpetram ilicitudes e falcatruas nos cargos que ocupam só para eu ter assunto.
Vivo feliz e a minha única insipidez é quando dou conta que também cá moro!
O «Gato Fedorento» e o «Levanta-te e Ri» são porta-estandartes da «stand up comedy». Pensa que se este estilo de humor vencer está consolidada uma nova forma de fazer rir em Portugal?
Está consolidada uma nova forma de fazer humor desde que surgiu o «Levanta-te e Ri» que foi, sem dúvida, o projecto que veio revolucionar o humor em Portugal. É o marco que convém assinalar ? 6 Janeiro 2003. A prova é que nos últimos 2 anos já fiz mais de 250 espectáculos para mais de 100 mil pessoas. Convém também fazer a distinção entre «stand up comedy» e outras formas de humor. O «Gato Fedorento» é um projecto de «sketches», nada tem a ver com «stand up comedy». São caminhos diferentes. O próprio «Levanta-te e Ri» não tem um «humor ?tipo». Tem pessoas que democraticamente mostram o que fazem. Uns contam anedotas, outros têm textos próprios, outros misturam. Cada um com o seu valor, mas cada um diferente dos outros.
Qual é o humorista português com que mais se identifica? Porquê?
Cresci a ver o Herman e acho que continua a ser o grande humorista em Portugal. Mas também ouvia muita coisa do Raul Solnado.
Qual é a sensação de ser projectado do anonimato para o papel de figura pública, ainda tão jovem e de forma tão meteórica?
Felicidade e prova de que vale a pena trabalhar e batalhar pelo que queremos. Mas há também frustração. Repare que já ando nisto há uns anos e ainda não me apareceram duas holandesas de 1,80m a fazer propostas indecentes como se chegou a afirmar que acontecia a quem fosse projectado do anonimato para o papel de figura pública, ainda tão jovem e de forma tão meteórica.
Depois de ter publicado um livro e de aparecer assiduamente na televisão e na rádio, o céu é o limite para a sua carreira? Como explica o sucesso das «Teorias do Nilton»?
Da mesma forma que acredito que ainda não cheguei a lado nenhum, acredito que também não há limites. Tenho um programa em «prime-time» na estação televisão mais vista em Portugal, tenho uma rúbrica no programa da manhã de uma rádio nacional, e trabalho, penso que o segredo é esse. Trabalhar e ter oportunidade de mostrar o que se faz. Depois disso, alguma coisa se consegue.
Tem outros livros na calha?
Livros, este ano não! Penso que sairá um DVD no final de 2005, que vou gravar na Toyota Box ? Espaço Cultural em Lisboa, a 10 de Setembro.
Presumo que o público que consome o humor que o Nilton produz é maioritariamente jovem. Que análise faz da juventude hoje em dia no que diz respeito à forma como encara a vida e cultiva os valores?
Depende. Nos meus espectáculos e no «feedback» que me chega, abranjo várias faixas etárias, a Rádio Comercial está num target 25-45, mas há sem dúvida muita juventude a acompanhar o meu trabalho. Vejo-os interessados e atentos. Não sou nada a favor da ideia de uma juventude rasca. Há de tudo, os valores são dados em casa. Se eles não os têm, muitas vezes é porque os pais também não. Mas há muita gente que os preserva. Posso até contar-lhe que há não muito tempo houve uma rapariga que me disse que sexo só depois do casamento. Tive que esperar que ela se casasse para podermos dormir juntos. Quem disse que já não há valores?
2 Comments:
o nilton é o melhor stand up comediant que eu conheço...
Vi diversos programas deste Sr., e................... não lhe acho graçinha nenhuma. As piadas são vazias ou meras cópias de grande humoristas . Pff .... melhor alguêm lhe oferecer uns episódios do Benny Hill, tem de começar por algum lado !
só se alguma criançinha de 2 anos se rir por achar piada á figurinha !
Enviar um comentário
<< Home