Comédia em Portugal

Um olhar sobre a Comédia em Portugal.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Herman José

Depois de 'Masterplan', voltou a apresentar um 'reality show'. Porquê?

Desde pequenino que gosto imenso de pessoas. Este tipo de programas permitem entrar dentro das pessoas, espicaçá-las, moldá-las. Pou-cas pessoas em Portugal têm tanto passado e tanta memória imprintada no código genético dos espectadores. No Masterplan, isso foi essencial. Antes de reagirem, os concorrentes olhavam para mim. E se eu apoiava, a coisa levantava voo... Eu gosto mesmo de fazer, mas não posso dizer isto alto ou a SIC retira--me o cachet. Isto não é trabalho, trabalho é o Herman SIC. Mas há aqui um trabalho psicológico...Sim, já entrei dentro dos concorrentes. Já lhes conheci as mulheres, já percebi as motivações deles.

E quais são?

São muitas. Uma são os velhos 15 minutos de fama que o Andy Warhol anunciou. Nenhum gosta de se vestir de mulher. Isso desvirtua a lógica do desafio. Todos fazem um esforço para se depilarem e andarem de saltos altos. A partir daí o que os motiva é a competição, o dinheiro e sobretudo a popularidade, para rentabilizar no futuro.

Ninguém se vestiu tantas vezes de mulher na televisão como o Herman. Isso pesou no facto de estar no programa?

Não. Fi-lo sempre como uma opção técnica para alargar a minha paleta de cor na minha paleta de personagens. Tirando a Maximiana, vestir-me de mulher foi sempre um sofrimento físico para além do que se pode imaginar. Nunca senti um segundo de prazer. Ao contrário do programa original, aqui existem comentadores e não um júri.Os comentadores vão acabar por servir como júri porque vão influenciar o voto das pessoas. São um júri encapotado. Mas quem vai ganhar é inevitavelmente o Zé Maria de saias, ou a Gisela de calças. Não tenho dúvidas de que vão sair daqui dois grandes bonecos.

A rapidez com que se criam figuras é uma característica da televisão fast food. Mas poucas se aguentam.As pessoas não estão preparadas para a fama?

Ninguém está. As pessoas acham que estão mas nunca estão.

É um programa para homens ou para mulheres?

É para mulheres e para miúdos, que são quem manda no telecomando. Um dos segredos da Quinta das Celebridades eram os animais. Os miúdos nem sabiam bem o que estavam a ver. Aqui vão ser as mulheres a observar os homens.

É a vingança das mulheres?

Tem uma componente disso, sem dúvida. Pela primeira vez, não são eles quem se senta a ver o Playboy. São elas quem se senta e diz "vamos ver os gajos". Há concorrentes muito atraentes que inevitavelmente vão espevitar o voyeurismo feminino, sob a capa do concurso. Não sei se será um programa muito masculino, mas, como digo, hoje em dia não são os homens quem manda no telecomando.Mas vai suscitar o tipo de leitura sexual que homens vestidos de mulheres provocam sempre..Basta ir a um balneário para compreender que isso está sempre presente nos homens... É o medo eterno do homem. Mas os estudos mostram que um número muito maior de homens do que se imagina tiveram experiências alternativas que não foram continuadas, mas deixaram fantasmas fortíssimos e tiques homofóbicos. A Alemanha nazi era oficialmente homofóbica, mas do bunker para dentro estava cheia de sexo alternativo.

Já se diz que este é o ano gay da televisão. Como explica isso?

É a caixa de Pandora que faltava abrir, que começou a ser aberta devagarinho pelos Pasolini e pelos Almodóvar. Agora, esse monstro há--de ser exorcizado em prime time até se normalizar a coisa. Portugal não é especialmente homofóbico desde que não se saiba não é grave. Toleram tudo ao José Castelo Branco porque ele até é casado com uma senhora. Sou a favor da elegância de não se anunciar a vida de cada um. Mas estes reality shows espectacularizam e usam a homossexualidade.

Isso não é contraditório com essa normalização a que se referiu?

O caminho passa primeiro pelo exagero, pela caricatura e depois pela normalização. É sempre assim.

Que comentário lhe merece a manifestação contra o Esquadrão G?

Não estou de acordo com a manifestação, mas foi muito inteligente o Governo Civil tê-la autorizado. Se eu vir uma manifestação, por muito ridícula que seja, a minha reacção é dar-lhes os parabéns por não estarem escondidos, como se fez em Portugal durante 50 anos. Depois, talvez seja interessante perguntar o que é que fará um daqueles jovens manifestantes, com a certeza da sua masculinidade, quando um filho lhe disser que gosta de homens, porque a genética é mais forte. E depois provar-lhes como filhos criados por homossexuais nascem tão equilibrados, tão homens, tão transparentes. A opção sexual vem imprintada no código genético e, a menos que se possa alterá-la por manipulação genética... Coisa em relação à qual não tenho nada contra, porque nascer diferente é sempre um sofrimento.

A sua imagem sobreviveu ao facto de ter sido envolvido no caso Casa Pia.

O público é soberano e se tivesse dito que não me queria ver mais eu tinha feito uma sabática. Eu não acredito em nada além dos poderes terrenos e sou adepto de um sistema judicial com pulso de ferro. Abomino a facilidade com que vigaristas profissionais passam impunes numa democracia frágil como é a portuguesa. Todas as experiências que tive com o sistema judicial levaram-me a ter uma bela confiança em magistrados e juízes. Nestes casos, se a pessoa está a aldrabar, acaba por se lixar, auto-destrói-se como as mensagens da Missão Impossível. Não estou a clamar a minha inocência, porque não posso, a decisão da minha não pronúncia ainda está em recurso na Relação. A única coisa que se pode fazer é deixar o sistema judicial funcionar, sem fazer ruído. Foi com esse espírito que, quando fui ouvido, por duas procuradoras, lhes perguntei se havia algum problema em anunciar os Globos de Ouro à saída. A única coisa interessante que podia fazer era dizer que a vida continua.

Como vê a actual euforia televisiva em torno do humor?

Estamos na fase Chuva de Estrelas do humor. Tal como nos cantores, ficará uma Sara Tavares e um João Pedro Pais. Não sei quais vão ficar, Há os profissionais que se vão manter pela capacidade de trabalho. Alguns ainda não perceberam que o humor é 90% esforço.

E o Gato Fedorento?

Faz-me lembrar alguns estados de graça por que passei. É uma novidade no discurso humorístico, com grande qualidade e uma grande normalidade. Têm um lado clean. Eu adoro-os.

1 Comments:

At 7:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

tio herman para mim continuas a ser o 1º e o melhor.
digo mesmo que sou a tua fã numero 1,adoro-te simplesmente és maravilhoso,continua sempre assim e não deixes que te tentem mandar a baixo.
adoro as tuas músicas e à bem pouco tempo comprei o teu cd dos melhores exitos é EXCELENTE.

beijos grandes

daniela esteves

 

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