Pedro Tochas
EOL - Acabas de chegar do estrangeiro. Como é que foi a experiência no ?Motion Fest? em Baltimore, nos EUA?
Pedro Tochas (PT) ? Foi a terceira vez que estive lá e foi espectacular porque tive a oportunidade de estar a trabalhar com performers do mundo inteiro. É, acima de tudo, um workshop porque nos permite trocar ideias e conhecer outras pessoas do meio. Este evento é dedicado a testar material, a aprender como melhorar o nosso desempenho. O que nós fazemos é mostrar coisas que estamos a trabalhar para termos um feedback dos grandes profissionais.
EOL - Como é que te defines a ti próprio? Actor, comediante, palhaço, malabarista? Onde é que fica o Pedro Santos no meio de tudo isto?
PT ? Acima de tudo faço comédia. Gosto de fazer comédia, mas em vários estilos. Faço uns espectáculos para provocar a gargalhada, outros mais para fazer sorrir. Por exemplo, o Palhaço Tochas é um formato mais poético. Às vezes faço outras performances mais pela sua beleza plástica do que pelo texto ou por qualquer outro conteúdo. O meu objectivo é criar.
No meio de tudo isto o Pedro Santos desapareceu. Agora é o Pedro Tochas.
EOL - Como está ser esta nova experiência da participação no programa ?Vais ou ficas?? na RTP 1?
PT ? É muito interessante. É um programa sobre viagens com o objectivo de ser engraçado e bem-disposto, mas sem guião, o que para mim foi um desafio enorme. O programa é da minha autoria e do Ivan Dias. Tentamos mostrar o nosso país de uma maneira mais divertida porque já há muitos programas a fazer isso de um modo mais formal.
EOL - Achas que se insere num provável conceito de ?serviço público de televisão??
PT ? Acho que sim. Estamos a tentar mostrar que há muitas coisas boas que se podem ver e fazer. O serviço público não é só o que se faz mas como se faz. E há certas coisas para as quais temos que cativar as pessoas sem ser de uma forma maçuda ou chata. Por exemplo, em Inglaterra foram realizados vários programas de viagens apresentados por elementos do programa de humor, Monty Python .
EOL - E a experiência no programa de rádio ?Planeta T? na Mega FM?
PT ? Está a ser muito giro. É um formato diferente em que eu telefono para as pessoas para as animar. Digo-lhes: Olá, tudo bem! És o maior!.
EOL - Este espectáculo ?Lado B? é apresentado como um dos mais autobiográficos da tua carreira. Usas as tuas experiências positivas e negativas como inspiração?
PT ? Sim, embora algumas dessas situações sejam um bocado teatralizadas. As coisas não aconteceram bem assim. Mas, muitas vezes, escrevo com base nas minhas experiências, naquilo que observo, naquilo que vou vivendo nos meus espectáculos.
EOL - Porquê a opção de levar este espectáculo por vários locais do país? Será pela possibilidade de teres um maior contacto com os diversos públicos?
PT ? Sim, aquilo que eu gosto é de fazer espectáculos. E tenho a noção de que não consigo estar eternamente em cena com um espectáculo em Lisboa. Além disso, há outras pessoas que não me podem ir ver a Lisboa, e então há que andar pelo país inteiro.
EOL - Consideras que os actuais programas de televisão com formato de stand-up comedy seguem o verdadeiro espírito desta arte?
PT ? Para mim o stand-up comedy é comédia de autor. Quando eu vejo contar anedotas que nós todos já conhecemos, algumas delas retiradas da internet, isso faz-me um bocado de confusão porque acho que não ajuda este tipo de espectáculos a evoluir. Se uma pessoa vai buscar piadas à internet ou a livros, isso para mim não é nada. Eu gosto é de comédia de autor, na qual as pessoas contam histórias que elas próprias escreveram e na qual mostram a sua própria visão do mundo. Há espaço para ambos os estilos mas é importante distinguir entre aqueles que criam e escrevem e aqueles que se limitam a recontar textos que apanham por aí. Mas o pior nem é para mim, mas para as novas gerações de comediantes, porque acabam por ver o seu trabalho confundido com palavrões.
EOL - Achas que a campanha da água Frize foi a rampa de lançamento que a tua carreira precisava?
PT ? Pelo menos fiquei conhecido. Posso ter ficado com uma má imagem devido ao facto das pessoas pensarem que o meu trabalho se limitou a fazer aquilo. Mas a minha carreira não começou agora, já cá ando há 12 anos.
EOL - Os textos eram teus?
PT - Os textos dessa campanha foram de minha autoria. Foi tudo improvisado, durante uma tarde, com base em conceitos.
EOL - Poderá a comédia, abordando os nossos ?fantasmas nacionais e individuais?, ser uma espécie de remédio para a depressão que o país actualmente vive?
PT ? A comédia ajuda a libertar. As pessoas que assistem aos meus espectáculos saem mais leves e, se calhar, um bocado doridas do maxilar de tanto rir [risos]. Acima de tudo, a comédia mostra que somos iguais, que existem pessoas a pensar da mesma maneira que nós e a rir das mesmas situações. Temos é que encarar as coisas pelo lado positivo e com graça.
EOL - O que é que te faz rir?
PT ? Rio-me com boa comédia, mas principalmente com comédia original. Estar a ver uma pessoa a repetir coisas que eu já conheço deixa-me logo de pé atrás.
EOL ? E projectos futuros?
PT ? Quero continuar com os meus espectáculos pelo mundo inteiro. Gosto de viajar e assim junto o útil ao agradável. Estou também a preparar um espectáculo novo que estará pronto daqui a seis ou sete meses.