Comédia em Portugal

Um olhar sobre a Comédia em Portugal.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Opiniões sobre a Comédia Lusa

Esta Opinião, vem daqui.


Levanta-te e Chora


Vós, caros compadres de desterro, decerto haveis já reparado que essa infâmia televisiva entre nós conhecida por Levanta-te e Ri, chegou na passada segunda-feira ao fim (não me perguntem o dia e a hora que eu sou péssimo pa essas merdas).Recorrendo-me agora do banal regsito de língua popular/corrente com que esses senhores (atarracados, sem pescoço e sem categoria) nos presentearam semana após semana, fazendo-no alternar entre o "oh meu deus!" e o sufoco em gargalhadas compulsivas.
E porquê?
Perguntem todos aí em casa: PORQUÊ?!
Porquê estarei eu aqui a divagar sobre esse malfadado programa insultado pelos puritanos e sábios comediantes dos Malucos do Riso e rebaixado pelo JetSet tortuguês?
Se calhar por isso mesmo. Se calhar por ter sido diferente do Herman e dos seus tiques homossexuais que já não passam despercebidos a ninguém, do humor rasca de Malucos, Batanetes, Prédio do Vasco, Revista entre (infelizes) bastantes outros, por se ter virado para um público diferente.
Por ter chamado gente diferente para fazer algo que não se fazia. Porque aquele Horácio era genial. Porque o Bruno Nogueira foi lá que apareceu, e a minha visão do mundo seria bastante mais cinzenta sem a influência destes dois senhores. Porque foi o Levanta-te e Ri que deu uma maior visibilidade a projectos como Gato Fedorento, Cabaré da Cocha, Homem que Mordeu o Cão, que de programas dedicado a tribos passaram a ser procurados pelo grande público que percebeu que não tinha de ser cultural e obrigatoriamente burro. Muitos se lançaram com a stand-up e graças a ela uma onda ar fresco rejuvenesceu o país e o país, esse ganda maluco, suspirou de alívio.
Eu pelo menos não consigo conceber a minha retorcida adolescência sem "puta que pariu é pó bujão", sem piadas sobre pescoços inexistentes, sobre o "senhor do bolo", sem um gajo que anunciava a sua chegada de braga com histórias do mais rebuscadamente divertido que alguma ouvi, sem teorias sobre a origem motoqueira de Jesus Cristo, sem fados manhosos nem "yestermaines", e sem muitos outros mitos, igualmente marcantes áquelas expressões que o Gato Fedorento celebrizou.
Mas tudo morre.
Até a comédia morre.
Bruno Nogueira fartou-se de ser visto como o arauto de uma arte menor e abandonou a guerra. Já nessa altura proliferavam os Serafins e afins e imitações baratas, que minavam o programa por dentro, visando a sua aniquilação total. Fernando Rocha era mais um bibelô bizarro que havia lá em casa. Ricardo de Araújo Pereira desaparecera. Nilton só tinha olhos para a K7. Aldo Lima brutalmente desinsipirado. E quando a única coisa que nos deixava esperançados quanto a um futuro melhor era a confiança cega daquele homem de blazer negro e nome esquesito, eis que ele, O Horácio também fechou a porta.
O país tremeu.
Quem correria os teatros? Quem lançaria piadas secas como um jogador de futebol? Quem cantaria foleirices? O que seria do país sem o Horácio, agora que ele era a sua única razão de viver?Da indignação ao boicote foi um salto. Ninguém queria o Levanta-te e Ri. Era como se de uma namorada-que-não-nos-contou-toda-a-verdade-acerca-dela se tratasse.
Horácio o Desejado não teve outro remédio senão voltar perante os apupos da turbe em fúria.E assim o espírito não morreu de imediato.
A vontade de não o deixar morrer, e não a vontade de viver, foi o que o manteu vivo. Até Rocha parecia renovado. Mas já tudo era notória e incontornavelmente diferente. Nada, nem teatros cheios, nem piadas foleiras, nem críticas exacerbadas (que na verdade já ninguém lhe fazia) poderia salvar o Lévante et Galhofe. A morte lenta era o caminho e o destino.
Por isso é com honesta melancolia que vejo o Levanta-te e Ri acabar.
A qualidade faltava é certo, e eu já mal o via, mas aquele foi O programa.
Aquele que me fez aturar o Serafim a contar histórias alentejanas só para ouvir o João Seabra fazer teorias sobre cagalhotos. Foi o programa aonde vi o Bruno Nogueira com aquela sua expressão imperturbavelmente séria a dizer mal do Castelo Branco. Foi lá que pela primeira vez que ouvi falar de Ricardo de Araújo Pereira, o tal dos Gato. E o Horácio... essa lição de vida que é Marco Horácio.
Tudo morre. Tudo o que é bom, morre.
Mais tarde ou mais cedo. Pena ter morrido assim.Já nada será o mesmo.O país ficou sem dúvida mais pobre

2 Comments:

At 1:19 da manhã, Anonymous Anónimo said...

E todos os que estiveram atentos descobriram a simplicidade do génio nos textos do Paulo Baldaia.

 
At 2:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Simplicidade do génio nos textos de quem?!!!...

 

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