Comédia em Portugal

Um olhar sobre a Comédia em Portugal.

terça-feira, janeiro 31, 2006

Ricardo Araujo Pereira

Urbi @ Orbi ? Do jornalismo à comédia, como é que foi este trajecto?

Ricardo Araújo Pereira ? Eu não creio bem que se possa dizer que foi do jornalismo à comédia porque, embora eu tenha feito comunicação social, apercebi-me cedo que não queria ser jornalista, pelo menos no sentido estrito. O jornalismo que eu acabei por fazer durante algum tempo foi um jornalismo particular, foi no ?Jornal de Letras?, é um jornalismo cultural sobre livros, escritores, pintores, temas que me interessam. Tive uma má experiência anterior de um jornalismo mais geral relacionado com aquelas coisas do costume, como ir atrás do Cavaco, não sei para onde, para saber o que é que ele pensa. Então, não chegou a ser bem isso, porque quando acabei a faculdade fiz o estágio no ?Jornal de Letras? e mais ou menos ao mesmo tempo recebi um convite das Produções Fictícias para trabalhar lá.

U@O ? E aí era mais aquilo que gostavas?
R.A.P. ? Sim. Eu sabia que gostaria de escrever, mas é difícil viver da escrita, embora se possa dizer que os jornalistas vivem da escrita, mas um escritor a conseguir viver da escrita não são muitos em Portugal que o consigam fazer. No entanto, é possível viver da escrita humorística.

U@O ? Essa opção pelo jornalismo cultural, era já a pensar que poderias desenvolver uma escrita mais criativa, não tão limitada àquelas regras do jornalismo normal?
R.A.P. ? De facto essa vertente do jornalismo permitia-me escrever de outra maneira, mas confesso que era mais motivada pelo facto de o outro tipo de jornalismo mais convencional ser menos interessante para mim, ao contrário do tipo de jornalismo no ?Jornal de Letras?.

U@O ? Como é que começou o ?Gato Fedorento??
R.A.P. ? O ?Gato Fedorento? enquanto programa de televisão teve origem nuns pequenos sketches que o Zé Diogo Quintela e eu fazíamos no programa ?O Perfeito Anormal?. Houve uma altura em que o Fernando Alvim, autor do programa, nos convidou para fazer uns sketches porque tinha visto um espectáculo nosso de stand up. Eram coisas que basicamente não tinham rigorosamente nada a ver uma com a outra, mas o Alvim é um tipo meio maluco e fizemos os sketches dentro desse programa, que tiveram algum êxito, pelo que os directores da ?SIC Radical? nos convidaram para fazer um programa de sketches autónomo. Nessa altura o Zé Diogo e eu achámos que era óbvio que íamos fazer um programa com o Miguel e o Tiago, que eram nossos amigos e colegas de trabalho, com os quais nós já tínhamos um sonho antigo de fazer uma coisa destas.

U@O ? Mas já tinham o blog com o mesmo nome. Houve alguma continuidade do blog para o programa televisivo?
R.A.P. ? Tirando o nome e os autores não há muita continuidade. O blog trata muito de coisas da actualidade e isso foi coisa que nunca tivemos no ?Gato Fedorento? porque as ligações à realidade eram menos importantes para nós. Nós fizemos parte da equipa que escreveu o ?Programa da Maria? e esse programa visto hoje tem tantas referências a uma actualidade comezinha daquela altura, que tinha a ver com as personagens do ?Big Brother?, por exemplo. Coisas que actualmente já não nos lembramos, que podia ter interesse fazer piadas com aquilo, mas hoje em dia já não fazem sentido.

U@O ? Tens consciência que o ?Gato Fedorento? começa a ganhar um destaque histórico na comédia nacional. Como é que encaras isso?
R.A.P. ? Nós ainda não tivemos muito tempo para pensar nisso, nem sequer para nos apercebermos disso porque vivemos no nosso pequeno mundo. Eu confesso que não saio muito de casa, trabalho muito em casa e não tenho muito oportunidade de constatar essa repercussão, embora saiba que ela existe. Mas não temos muito tempo para pensar nisso, nem sequer conseguimos muito bem ter a noção do que é que tal coisa significa. No outro dia estava uma pessoa a dizer-me que nós íamos ser uma espécie de ?Abelha Maia? das pessoas desta geração, no sentido em que daqui a dez anos as pessoas vão dizer ? ?houve lá lembras-te de uma coisa que havia há uns anos que era o Gato Fedorento, uns gajos que diziam ah e tal? ?, se isso acontecer é muito lisonjeiro para nós.

U@O ? E na rua, como é que és tratado?
R.A.P. ? Para mim, que sou um bocado tímido, é um bocado embaraçoso, mas as pessoas são sempre simpáticas e não custa nada, antes pelo contrário. Apesar de ser uma coisa intensa e, às vezes, pode calhar não estar particularmente bem disposto ou ir com pressa, mas a perspectiva sobre isso é as pessoas não têm culpa que eu esteja mal disposto, ou vá com pressa, ou ser a 17ª pessoa que me pede um autógrafo hoje. Eu tenho que a tratar como se fosse a primeira, porque não há razão nenhuma para a tratar mal. Mas nem sequer tenho de que me queixar porque nunca me trataram de uma maneira desagradável, muito pelo contrário.

U@O ? De onde é que vem tanta imaginação, onde é que se inspiram?
R.A.P. ? O programa é muito sobre coisas do dia a dia. Eu acho que uma das razões porque as pessoas se relacionam com o programa é porque ele fala das coisas da vida de todos os dias, dos políticos em geral, dos jornalistas, das pessoas que estão na rua, do discurso das pessoas. Sobretudo o que nos interessa é a linguagem, o discurso das pessoas é muito interessante porque revela muito para além daquilo do que as pessoas estão a dizer, outras esconde ou tenta esconder, e com essa tentativa também revela outras coisas.

U@O ? Vocês quatro já trabalham há algum tempo juntos, como é a vossa relação?
R.A.P. ? É óptima e seria insuportável se assim não fosse porque temos que passar muito tempo juntos. Agora todos os fins-de-semana temos estado fora e estar fora de casa com as mesmas três pessoas, se não houver de facto uma relação boa é insuportável. Andamos imenso de um lado para o outro e não nos queixamos de nada, tem sido muito divertido fazer isto.

U@O ? Com certeza também têm alguns desacatos?
R.A.P. ? Nós até costumamos integrar esses desacatos no nosso trabalho. Justamente porque a relação é saudável é possível haver desacatos. Só quando uma relação não aguenta desacatos é que as pessoas os tentam evitar.

U@O ? Porquê os Fonsecas e os Meireles?
R.A.P. ? Boa pergunta. O facto de as personagens partilharem o mesmo nome deve-se ao seguinte: quando se está a escrever um sketch, uma das principais dificuldades que tivemos era dar um nome a uma personagem, porque se ele é pintor não vamos dizer ? ?ó senhor pintor? ? porque é uma coisa um bocado infantil. Supondo que estamos a fazer um sketch sobre um pintor, podemos chamar-lhe José Trincha porque para pintar usa pincel, o que não é muito engraçado e dá muito trabalho a inventar. Outra hipótese é chamar uma coisa do género João Gonçalves, mas chamar a um João Gonçalves e a outro José Quintela pode levar as pessoas a pensar ? ?será que este Quintela tem a ver com outro Quintela que era pintor??. Isto pode gerar ruído no sketch, o que não nos interessa, pois queremos que a atenção das pessoas esteja focalizada naquilo que está a acontecer. Também optámos por fazer o mesmo nome porque a repetição tem um potencial cómico, pelo facto de as personagens terem o mesmo apelido e às vezes no mesmo sketch estarem todas a tratarem-se pelo mesmo nome.

U@O ? Isso também permite ao público uma memorização?
R.A.P. ? Isso é verdade. Quando fizemos isso não foi com essa intenção, mas de facto as pessoas viam os Fonsecas ou os Meireles, e o facto de o apelido ser comum ajudou a popularizar.

U@O ? Quais são as tuas referências em termos humorísticos?
R.A.P. ? A referência portuguesa principal é o Herman. Depois nos sketches, os Monty Pyton continuam a ser insuperáveis. O Rowan Atkinson, mais conhecido por Mister Bean, os Smith and Jones e também o Big Train, uma série que passou há pouco tempo em Portugal, são muito bons, mas também esses têm referência dos Monty Pyton. Depois na escrita, o Woody Allen, o Mark Twain, o Miguel Esteves Cardoso, mesmo o Camilo Castelo Branco e o Eça de Queirós têm páginas com uma grande qualidade humorística.

U@O ? Qual é o tipo de sketches que te dá mais gozo fazer?
R.A.P. ? É difícil falar em tipo de sketches porque nós não repetimos personagens, o ?gajo de Alfama? ou o ?homem a que aconteceu não sei quê? apareceram uma vez e nunca mais voltaram. Um dos que nos deu mais gozo fazer foi o ?gajo de Alfama? porque nós riamo-nos a meio e isso faz daquilo uma coisa muito divertida porque o facto de não nos podermos rir ainda dá mais vontade de o fazer. É difícil manter a compostura e quando isso acontece torna-se ainda mais divertido do que já é.

U@O ? Muitos dos vossos sketches tratam situações de jornalismo, qual a razão para isso?
R.A.P. ? Porque é um meio muito forte e acessível às pessoas. O trabalho dos pedreiros, por exemplo, não está à disposição das pessoas do mesmo modo e intensidade como o trabalho dos jornalistas, uma vez que é um trabalho público. Depois cada profissão tem o seu tipo de discurso e o discurso dos jornalistas é interessante e tem um potencial humorístico, até porque é aliciante desmontá-lo, assim como o dos políticos.

U@O ? Quais são os temas que preferes?
R.A.P. ? É difícil de dizer porque nós não partimos para os sketches por tema. Há uma ideia que nos ocorre e é engraçada e depois constatamos que ela se insere num determinado tema, mas à partida esse nunca foi o nosso objectivo.

U@O ? Qual é o objectivo do vosso humor?
R.A.P. ? O nosso primeiro objectivo é fazer rir. Aparentemente conseguimos mais algumas coisas além disso, o que nos agrada imenso, mas por muito que isso me agrade nós não nos sentimos com uma função social. Como não tentamos fazer rir com palavrões ou escatologia e as nossas obsessões não são desse nível, é possível que além de fazer rir aquilo contribua para mais qualquer coisa.

U@O ?E esse qualquer coisa está nos planos ou é uma consequência?
R.A.P. ? É uma consequência. Só está nos nossos planos na medida em que as pessoas que estão a fazer aquilo somos nós, ou seja, quem está a fazer o humor são pessoas cujas preocupações são aquelas.

U@O ?Vocês põem muitas pessoas a rir. Também te ris com o que fazem?
R.A.P. ? Não vou mentir, não vou dizer ah e tal não rio nada e não gosto. Se eu não gostasse deixava de fazer. Portanto há muitas coisas que fazemos que eu vejo com gosto e acho graça e doutra maneira não faria sentido.

U@O ? Qual a diferença entre estar em palco e gravar?
R.A.P. ? É uma diferença muito grande. Logo aquela diferença óbvia da forma como aquilo sai, pela pressão que temos em palco, onde tem de sair bem à primeira, e não temos quando estamos a gravar porque podemos fazê-lo várias vezes. Depois há outra questão que se relaciona com o facto de nós não termos nenhuma formação como actores e no palco isso nota-se ainda mais, porque enquanto na televisão podemos aparecer em planos mais pequenos, no palco as pessoas estão sempre a ver-nos o corpo todo. Para mim, que me movimento como um ?gigantone? de Cinfães, é muito mais difícil fingir que sei representar.

U@O ? Qual te agrada mais, o palco ou o estúdio?
R.A.P. ? Não consigo escolher porque cada um tem os seus encantos. Já me começa a agradar o palco, embora isto tenha sido bastante cansativo e me apeteça fazer coisas diferentes. Para mim que não sou actor é um bocado aborrecido a repetição dos mesmos textos, enquanto que na televisão estamos sempre a criar coisas novas. Mas não me desagrada nada o palco. Aquele confronto com o público, que até certo ponto é doloroso, também é agradável ao mesmo tempo.

U@O ? Como é que está a correr a digressão?
R.A.P. ? Muito bem, surpreendentemente. Os sítios onde vamos têm esgotado sempre, como o coliseu do Porto, que é a maior sala de espectáculos do país com três mil lugares e esgotou sempre. Esgotámos o Luisa Toddi em Setúbal por três dias, esgotámos um pavilhão em Loulé que levava três mil pessoas. A receptividade do público tem sido espantosa.

U@O ? Em tua casa há muito humor?
R.A.P. ? Há algum, eu não sou carrancudo. Neste momento já tenho duas filhas, uma que nasceu agora e outra de ano e meio - já sou pai de muita gente. As miúdas desorganizam-me tudo e onde há crianças com essa idade é dificil haver ordem.

U@O ? Além do ?Gato Fedorento? também escreves para as Produções Fictícias, o que é que gostas mais?
R.A.P. ? Eu gosto mais de escrever do que de representar, sem dúvida. Mas o ?Gato Fedorento? dá muito gozo fazer porque é uma coisa em que eu tenho completa liberdade. A escrever tenho constrangimentos, por exemplo, o Herman tem de falar sobre a actualidade e falar dela de uma determinada forma porque deve captar o maior número de pessoas possível, os textos que fazemos para a Maria Rueff no jornal ?A Bola? são sobre futebol. No ?Gato Fedorento? não há tema, não há preocupação comercial e , basicamente fazemos o que nos apetecer.

U@O ? Uma das tuas referências é o Herman. Como é escrever para a tua própria referência?
R.A.P. ? É espantoso. Obviamente que eu nunca esperava que isto sucedesse, quando com dez anos via ?O Tal Canal?. Lembro-me de o ver muito entusiasmadamente com essa idade, e ainda hoje sei textos de cor. Evidentemente que nessa altura nunca suspeitava que 13 anos depois estaria a escrever para o Herman e isso, sobretudo os primeiros contactos, foi muito emocionante.

U@O ? O nosso país tem bom material para fazer humor?
R.A.P. ? Eu acho que sim, todos de um modo geral têm. No nosso, como nós nos conhecemos melhor e sabemos as nossas fraquezas e forma particular de sermos aldrabões ou espertos, por aí fora, tudo isso é muito passível de ser satirizado.

U@O ? Como vês o crescimento do humor em Portugal, qual achas que é a sua importância?
R.A.P. ? Eu acho que o humor é muito importante e pelos vistos tem muita importância do ponto de vista comercial, senão não haveria este investimento tão forte. Não há nenhum canal que não invista no humor, muitos programas, como os da tarde e da manhã, fazem questão de ter uma parte humorística. O crescimento humorístico pode não vir acompanhado da qualidade, pode haver muitos ?Prédios do Vasco?, ?Malucos do Riso? e ?Batanetes?, que são programas quase iguais, às vezes até os actores são os mesmos e as próprias anedotas se repetem. E isso não quer dizer que tenha havido uma melhoria de qualidade, mas quanto mais pessoas houver a fazer humor, maior a probabilidade de haver várias tendências diferentes.

U@O ? E em termos sociais achas o humor importante?
R.A.P. ? Muito importante, desde os tempos de Gil Vicente que é usado como arma de critica e sátira social com um papel particularmente forte. Por uma razão qualquer, se uma critica for feita de forma séria pode ser bastante certeira, mas talvez não faça tanta mossa se for a mesma critica codificada num registo humorístico que, além de criticar, faz as pessoas rir. Isso provoca outro tipo de reacção talvez mais violenta e eficaz. Mas há outros factores que contribuem para que o humor seja importante do ponto de vista social, no sentido em que o humor serve para tirar peso às coisas. Não é por acaso que nos funerais se contam muitas anedotas, porque aquilo é uma coisa dolorosa e com a ajuda do humor é possível retirar peso àquele problema e torná-lo mais fácil de suportar. Eu gosto muito dessa característica porque através do humor os problemas tornam-se mais humanos e isso é uma coisa que eu prezo muito.

U@O ? Projectos para o futuro?
R.A.P. ? Neste momento nem sequer sei se temos, estamos a fazer isto e muito envolvidos nesta onda em que há muita coisa para fazer. Mas há aqueles projectos de longo prazo, escrever qualquer coisa de maior fundo. Aquilo que sempre me agradou mais foi a escrita, aquela comunicação que há entre escritor e leitor, como que telepaticamente, agrada-me bastante e gostava de experimentar esse registo.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Herman José

Depois de 'Masterplan', voltou a apresentar um 'reality show'. Porquê?

Desde pequenino que gosto imenso de pessoas. Este tipo de programas permitem entrar dentro das pessoas, espicaçá-las, moldá-las. Pou-cas pessoas em Portugal têm tanto passado e tanta memória imprintada no código genético dos espectadores. No Masterplan, isso foi essencial. Antes de reagirem, os concorrentes olhavam para mim. E se eu apoiava, a coisa levantava voo... Eu gosto mesmo de fazer, mas não posso dizer isto alto ou a SIC retira--me o cachet. Isto não é trabalho, trabalho é o Herman SIC. Mas há aqui um trabalho psicológico...Sim, já entrei dentro dos concorrentes. Já lhes conheci as mulheres, já percebi as motivações deles.

E quais são?

São muitas. Uma são os velhos 15 minutos de fama que o Andy Warhol anunciou. Nenhum gosta de se vestir de mulher. Isso desvirtua a lógica do desafio. Todos fazem um esforço para se depilarem e andarem de saltos altos. A partir daí o que os motiva é a competição, o dinheiro e sobretudo a popularidade, para rentabilizar no futuro.

Ninguém se vestiu tantas vezes de mulher na televisão como o Herman. Isso pesou no facto de estar no programa?

Não. Fi-lo sempre como uma opção técnica para alargar a minha paleta de cor na minha paleta de personagens. Tirando a Maximiana, vestir-me de mulher foi sempre um sofrimento físico para além do que se pode imaginar. Nunca senti um segundo de prazer. Ao contrário do programa original, aqui existem comentadores e não um júri.Os comentadores vão acabar por servir como júri porque vão influenciar o voto das pessoas. São um júri encapotado. Mas quem vai ganhar é inevitavelmente o Zé Maria de saias, ou a Gisela de calças. Não tenho dúvidas de que vão sair daqui dois grandes bonecos.

A rapidez com que se criam figuras é uma característica da televisão fast food. Mas poucas se aguentam.As pessoas não estão preparadas para a fama?

Ninguém está. As pessoas acham que estão mas nunca estão.

É um programa para homens ou para mulheres?

É para mulheres e para miúdos, que são quem manda no telecomando. Um dos segredos da Quinta das Celebridades eram os animais. Os miúdos nem sabiam bem o que estavam a ver. Aqui vão ser as mulheres a observar os homens.

É a vingança das mulheres?

Tem uma componente disso, sem dúvida. Pela primeira vez, não são eles quem se senta a ver o Playboy. São elas quem se senta e diz "vamos ver os gajos". Há concorrentes muito atraentes que inevitavelmente vão espevitar o voyeurismo feminino, sob a capa do concurso. Não sei se será um programa muito masculino, mas, como digo, hoje em dia não são os homens quem manda no telecomando.Mas vai suscitar o tipo de leitura sexual que homens vestidos de mulheres provocam sempre..Basta ir a um balneário para compreender que isso está sempre presente nos homens... É o medo eterno do homem. Mas os estudos mostram que um número muito maior de homens do que se imagina tiveram experiências alternativas que não foram continuadas, mas deixaram fantasmas fortíssimos e tiques homofóbicos. A Alemanha nazi era oficialmente homofóbica, mas do bunker para dentro estava cheia de sexo alternativo.

Já se diz que este é o ano gay da televisão. Como explica isso?

É a caixa de Pandora que faltava abrir, que começou a ser aberta devagarinho pelos Pasolini e pelos Almodóvar. Agora, esse monstro há--de ser exorcizado em prime time até se normalizar a coisa. Portugal não é especialmente homofóbico desde que não se saiba não é grave. Toleram tudo ao José Castelo Branco porque ele até é casado com uma senhora. Sou a favor da elegância de não se anunciar a vida de cada um. Mas estes reality shows espectacularizam e usam a homossexualidade.

Isso não é contraditório com essa normalização a que se referiu?

O caminho passa primeiro pelo exagero, pela caricatura e depois pela normalização. É sempre assim.

Que comentário lhe merece a manifestação contra o Esquadrão G?

Não estou de acordo com a manifestação, mas foi muito inteligente o Governo Civil tê-la autorizado. Se eu vir uma manifestação, por muito ridícula que seja, a minha reacção é dar-lhes os parabéns por não estarem escondidos, como se fez em Portugal durante 50 anos. Depois, talvez seja interessante perguntar o que é que fará um daqueles jovens manifestantes, com a certeza da sua masculinidade, quando um filho lhe disser que gosta de homens, porque a genética é mais forte. E depois provar-lhes como filhos criados por homossexuais nascem tão equilibrados, tão homens, tão transparentes. A opção sexual vem imprintada no código genético e, a menos que se possa alterá-la por manipulação genética... Coisa em relação à qual não tenho nada contra, porque nascer diferente é sempre um sofrimento.

A sua imagem sobreviveu ao facto de ter sido envolvido no caso Casa Pia.

O público é soberano e se tivesse dito que não me queria ver mais eu tinha feito uma sabática. Eu não acredito em nada além dos poderes terrenos e sou adepto de um sistema judicial com pulso de ferro. Abomino a facilidade com que vigaristas profissionais passam impunes numa democracia frágil como é a portuguesa. Todas as experiências que tive com o sistema judicial levaram-me a ter uma bela confiança em magistrados e juízes. Nestes casos, se a pessoa está a aldrabar, acaba por se lixar, auto-destrói-se como as mensagens da Missão Impossível. Não estou a clamar a minha inocência, porque não posso, a decisão da minha não pronúncia ainda está em recurso na Relação. A única coisa que se pode fazer é deixar o sistema judicial funcionar, sem fazer ruído. Foi com esse espírito que, quando fui ouvido, por duas procuradoras, lhes perguntei se havia algum problema em anunciar os Globos de Ouro à saída. A única coisa interessante que podia fazer era dizer que a vida continua.

Como vê a actual euforia televisiva em torno do humor?

Estamos na fase Chuva de Estrelas do humor. Tal como nos cantores, ficará uma Sara Tavares e um João Pedro Pais. Não sei quais vão ficar, Há os profissionais que se vão manter pela capacidade de trabalho. Alguns ainda não perceberam que o humor é 90% esforço.

E o Gato Fedorento?

Faz-me lembrar alguns estados de graça por que passei. É uma novidade no discurso humorístico, com grande qualidade e uma grande normalidade. Têm um lado clean. Eu adoro-os.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

NILTON

Depois de uma vida bem ao estilo de um nómada, em que chegou a residir em Angola, no Algarve e na Beira Baixa, Nilton assentou arraiais em Lisboa e converteu-se numa das estrelas mais cintilantes da nova forma de fazer humor, a «stand up comedy».
Nilton diz que «os portugueses se riem deles próprios», agradece aos políticos, árbitros e dirigentes pela ajuda que dão aos que escrevem piadas em Portugal e até chega a admitir que, por vezes, «nem se consegue tempo para fazer piadas sobre tanto assunto».
O «entertainer» não se revê na concepção de «geração rasca» e acrescenta que se alguma juventude não tem valores, provavelmente isso resulta da falta de referências dos próprios pais.
Nasceu em Angola, cresceu em Proença-a-Nova, viveu no Algarve e reside agora em Lisboa.

Que recordações tem de África e da infância na Beira Baixa?

Vim de Angola com 4 anos, gostava de me lembrar das mulatas, mas não! Nada! Da Beira Baixa lembro-me das represas e praias fluviais onde passei muitos verões, das corridas de trotinetas que fazia com amigos que ainda hoje conservo e lembro-me também de duas morenas muito giras, mas agora não posso dizer os nomes porque já são casadas!

Como é que um «disco-jockey» (DJ) e um decorador de interiores acaba em humorista e num dos ícones da «stand up comedy»?

Profissionalmente, sempre fiz tudo o que me deu vontade. Quis fazer rádio, fiz. Quis ser DJ, fui. As decorações surgem ainda quando era DJ e para exteriorizar e colmatar o recalcamento de nunca ter tirado um curso de Arquitectura. No meio de tudo isto sempre escrevi. A «stand up comedy» e subida ao palco nasce quando começo a ter necessidade de dar vida aos meus textos. Ninguém os comprava e tornei-me cliente de mim próprio. O Nilton vende ao Nilton os textos que o Nilton escreve para o Nilton.

O Nilton foi um dos percursores da «stand up comedy» no nosso País. Pensa que esta forma de fazer humor tem futuro ou é uma moda passageira?

Acho que tem vida para além da morte, como aconteceu no estrangeiro. Brevemente iremos assistir a um assentar da poeira, que na minha opinião já se sente aproximar. O mercado não consegue absorver todos e muitos ficarão pelo caminho. Separadas as águas, ficarão os que mais trabalharem. Como a «stand up comedy» não é uma entidade estatal, penso que cunhas e sorte não ajudarão à triagem.

Costuma dizer-se que Portugal é um País cinzento e que tem dificuldade em rir. É difícil fazer humor?

Ser humorista neste país é como viver no paraíso, não estamos rodeados de 70 virgens como acreditam os suicidas palestinianos, mas estamos rodeados de portugueses, o que é garante de piadas para a eternidade. Se juntarmos isso ao facto do nosso povo rir de si próprio, meu amigo, somos uns privilegiados!

Há matéria prima ? política, desportiva e social ? suficiente para despertar a imaginação de um criativo para escrever guiões diariamente?

Onde é que o meu amigo tem andado? Atente para o que os nossos políticos, árbitros e dirigentes fazem em prol dos comediantes deste país...Não param! Às vezes até nem se consegue tempo para fazer piadas sobre tanto assunto. Aproveito mesmo para gratular publicamente a todos os que me coadjuvam e perpetram ilicitudes e falcatruas nos cargos que ocupam só para eu ter assunto.
Vivo feliz e a minha única insipidez é quando dou conta que também cá moro!

O «Gato Fedorento» e o «Levanta-te e Ri» são porta-estandartes da «stand up comedy». Pensa que se este estilo de humor vencer está consolidada uma nova forma de fazer rir em Portugal?

Está consolidada uma nova forma de fazer humor desde que surgiu o «Levanta-te e Ri» que foi, sem dúvida, o projecto que veio revolucionar o humor em Portugal. É o marco que convém assinalar ? 6 Janeiro 2003. A prova é que nos últimos 2 anos já fiz mais de 250 espectáculos para mais de 100 mil pessoas. Convém também fazer a distinção entre «stand up comedy» e outras formas de humor. O «Gato Fedorento» é um projecto de «sketches», nada tem a ver com «stand up comedy». São caminhos diferentes. O próprio «Levanta-te e Ri» não tem um «humor ?tipo». Tem pessoas que democraticamente mostram o que fazem. Uns contam anedotas, outros têm textos próprios, outros misturam. Cada um com o seu valor, mas cada um diferente dos outros.

Qual é o humorista português com que mais se identifica? Porquê?

Cresci a ver o Herman e acho que continua a ser o grande humorista em Portugal. Mas também ouvia muita coisa do Raul Solnado.

Qual é a sensação de ser projectado do anonimato para o papel de figura pública, ainda tão jovem e de forma tão meteórica?

Felicidade e prova de que vale a pena trabalhar e batalhar pelo que queremos. Mas há também frustração. Repare que já ando nisto há uns anos e ainda não me apareceram duas holandesas de 1,80m a fazer propostas indecentes como se chegou a afirmar que acontecia a quem fosse projectado do anonimato para o papel de figura pública, ainda tão jovem e de forma tão meteórica.

Depois de ter publicado um livro e de aparecer assiduamente na televisão e na rádio, o céu é o limite para a sua carreira? Como explica o sucesso das «Teorias do Nilton»?

Da mesma forma que acredito que ainda não cheguei a lado nenhum, acredito que também não há limites. Tenho um programa em «prime-time» na estação televisão mais vista em Portugal, tenho uma rúbrica no programa da manhã de uma rádio nacional, e trabalho, penso que o segredo é esse. Trabalhar e ter oportunidade de mostrar o que se faz. Depois disso, alguma coisa se consegue.

Tem outros livros na calha?

Livros, este ano não! Penso que sairá um DVD no final de 2005, que vou gravar na Toyota Box ? Espaço Cultural em Lisboa, a 10 de Setembro.

Presumo que o público que consome o humor que o Nilton produz é maioritariamente jovem. Que análise faz da juventude hoje em dia no que diz respeito à forma como encara a vida e cultiva os valores?

Depende. Nos meus espectáculos e no «feedback» que me chega, abranjo várias faixas etárias, a Rádio Comercial está num target 25-45, mas há sem dúvida muita juventude a acompanhar o meu trabalho. Vejo-os interessados e atentos. Não sou nada a favor da ideia de uma juventude rasca. Há de tudo, os valores são dados em casa. Se eles não os têm, muitas vezes é porque os pais também não. Mas há muita gente que os preserva. Posso até contar-lhe que há não muito tempo houve uma rapariga que me disse que sexo só depois do casamento. Tive que esperar que ela se casasse para podermos dormir juntos. Quem disse que já não há valores?

sexta-feira, janeiro 20, 2006

José Pedro Gomes

Coçar onde é preciso, em digressão nacional

O espectáculo de José Pedro Gomes "Coçar onde é preciso", em cena na Casa do Artista até domingo e já aplaudido por mais de 20.000 pessoas, inicia em Janeiro uma digressão nacional, informou hoje a produtora.

Leiria, Aveiro, Guarda, Santarém, Porto, Coimbra, Faro, Braga, Bragança e Vila Real são os distritos contemplados na digressão, que decorrerá de 07 de Janeiro a 31 de Março, além de uma representação nos Açores e duas em Cabo Verde - uma na Cidade da Praia e outra no Mindelo -, num total de 24 representações.

A digressão de "Coçar onde é preciso" interrompe em Abril e na primeira quinzena de Maio, quando José Pedro Gomes e António Feio vão estar em filmagens da película "Conversas da Treta", revelou à agência Lusa Rita Duarte, da produtora UAU.

Em "Coçar onde é preciso", José Pedro Gomes apresenta-se sozinho em palco durante cerca de noventa minutos em que discorre, satiriza e personifica o seu ponto de vista sobre as várias facetas do "portuga", num registo que o actor considera estar mais próximo da "stand-up comedy".
Em Janeiro, "Coçar onde é preciso" vai subir ao palco do Cine- Teatro de Alcobaça (dia 07), Cine-Teatro António Lamoso, em Santa Maria da Feira (12), da Casa Municipal da Cultura de Seia (13), do Cine-Teatro Paraíso em Tomar (14), Rivoli Teatro Municipal no Porto (dias 19, 20, 21 e 22) e do Coliseu Micaelense, em São Miguel, Açores (27).
Em Fevereiro vai ser representada no Cine-Teatro de Pombal (dia 03), Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz (07), Auditório Pedro Ruivo em Faro (10 e 11), Auditório do Parque das Exposições de Braga (17) e no Auditório Municipal da Lousada (18).
O Teatro Virgínia em Torres Novas (dia 03), Centro Cultural Silveiro em Oliveira do Bairro (04), Cidade da Praia (08), Mindelo (10), Teatro Académico Gil Vicente em Coimbra (22), a Fábrica do Inglês em Silves (25), o Teatro Municipal de Bragança (30) e o Teatro Municipal de Vila Real (31) são os locais agendados para Março.

Concebida e protagonizada por José Pedro Gomes, "Coçar onde é preciso" é a primeira peça do actor depois de, em Março último, ter sido submetido a uma intervenção cirúrgica devido a um aneurisma que sofreu em palco.

Com textos de José Pedro Gomes, direcção de Sónia Aragão e José Pedro Gomes, adereços de Marinel Matos e desenho de luz de Paulo Sabino, "Coçar onde é preciso" estreou a 21 de Setembro na Casa do Artista/Teatro Armando Cortez, perfazendo domingo 65 representações.
A peça teve contudo três representações em antestreia: duas na Madeira (02 e 03 de Setembro), uma no Cartaxo (09) e outra em Figueiró dos Vinhos (16).

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Raul Solnado

novembro 25, 2004

RAUL SOLNADO

Uma interessantíssima entrevista a Raul Solnado, no site da Sociedade Portuguesa de Autores:





As gargalhadas que ganharam a guerra

Raul Solnado é um actor de mil faces mas foi com as gargalhadas que se impôs como uma figura mítica do espectáculo. E quando a guerra colonial era sagrada e indiscutível, ele pôs Portugal a rir-se de uma guerra sem sentido, uma rábula que foi o seu maior êxito de sempre. Ouvide agora senhores, a sua estória de pasmar!

Autores - Costuma dizer que um cómico tem muitos inimigos. Quem são os seus inimigos?
Raul Solnado - O actor cómico é um interventor no plano social, político e até na vida das pessoas que critica, por isso não pode ter a unanimidade universal. O Chaplin tinha imensos inimigos e esses declaravam-se a cada passo. Os meus inimigos não se declaram, mas sei que os tenho, embora não se manifestem.

A - Para os cómicos não há limites?
RS - Para mim tudo é risível mas imponho-me limites. Despejo a minha fúria sobre o pensamento monolítico, critico o que os políticos dizem e fazem, ridicularizo os tiques da sociedade, contexto as injustiças. Só poupo a democracia, é proibido atentar contra o regime democrático. Contra o Presidente da República, também não. Mal vão as coisas quando ele é criticável.

A - Foi por isso que em plena guerra colonial pôs Portugal a rir à gargalhada com a sua versão da guerra?
RS - Aquela rábula tem um início anterior à guerra. Eu fui a Madrid e vi o Miguel Gila representar o texto. Fiquei logo apaixonado pela rábula porque o non sense é o tipo de humor que mais me toca. Comprei o disco, traduzi o texto mas guardei-o, não por temer a censura mas porque tinha dúvidas que as pessoas gostassem daquilo.

A - E quando é que a sua guerra saiu da gaveta?
RS - Foi já no início da guerra em Angola. Eu fui com o Humberto Madeira -um cómico fabuloso - à quermesse do Nacional da Madeira, na Quinta da Vigia, um sítio lindíssimo onde agora está instalado o Governo Regional. Num mês fizemos 45 espectáculos e lá para o fim sentimos que era preciso refrescar o repertório. Disse ao Humberto Madeira que gostava de fazer a guerra, talvez as pessoas gostassem. Ele apoiou-me e avancei. Nessa noite o público riu-se tanto que pediu bis. Foi ali que começou o sucesso da minha guerra...

A - Quais eram as suas dúvidas em relação ao texto?
RS - Não era em relação ao texto, mas ao gosto do público, hoje as pessoas riem melhor que naquela altura. Eu não sabia se um texto non sense ia funcionar. Os cómicos têm sempre essa dúvida. Uma piada leva duas horas a ser construída e depois desaparece como um fósforo. É ao contrário dos cantores que quanto mais cantam um tema, mais ele se populariza e ganha notoriedade.

A - A estória da sua ida à guerra começou na Madeira e depois alastrou a que palcos?
RS - Mal cheguei a Lisboa fui fazer um espectáculo no ringue de patinagem de Oeiras e o êxito foi igual ao da Madeira. Na altura ia fazer a revista "Bate o Pé" e fiquei com a certeza de que a rábula não ia falhar.

A - Mas aí já tinha que submeter o texto à comissão de censura...
RS - Pois, e era uma censura visual e de texto, por isso eu tinha um grande receio que não passasse. O Nelson de Barros, grande jornalista e o maior autor de revistas que conheci, disse-me que mandávamos o texto como sendo para o personagem Cantinflas, uma rábula que tinha feito no teatro Apolo. Quando o texto veio aprovado, ninguém queria acreditar. O problema era a censura visual.

A - Como funcionava essa comissão de censura visual?
RS - No ensaio geral, cinco ou seis censores viam o espectáculo. Depois diziam que era preciso tapar um umbigo, descer umas saias, coisas assim. No Carnaval só se podia dizer merda uma vez por sessão. Como eu não ia vestido de Cantinflas, estava receoso que a rábula fosse cortada. Mas estes textos de non sense têm de ser bem compreendidos, caso contrário não funcionam. E eu disse aquilo a uma velocidade tal que nem eu próprio percebi o que dizia. Os censores também não perceberam e, no final, um deles disse-me que estava tudo aprovado mas deu-me um conselho: olhe lá, não faça aquilo da guerra, não tem piada nenhuma! E eu disse-lhe que era obrigado a fazer mas que então só fazia aquilo na estreia. Como já sabia o que vinha a seguir, pedi à Valentim de Carvalho que gravasse aquilo na estreia e lançasse o disco. Depois era impossível travar a rábula. Os censores ficaram baralhados com o Cantinflas!

A - Nessa altura já tinha grande notoriedade como actor?
RS - Nem por isso. Curiosamente, a crítica só começou a dar por mim, quando no teatro Apolo fiz a rábula do Cantinflas, em 1954.

A - Só para informação dos nossos leitores mais jovens, imitava o actor mexicano Mário Moreno, mais conhecido por Cantinflas?
RS - Exactamente. O Cantinflas era um cómico que teve êxito mundial nos anos 50 e 60.

A - Depois da sua versão da guerra continuou a fazer coisas subversivas?
RS - Sempre que pude. Em 1972, lancei "Os Malmequeres" na revista "Prá Frente Lisboa". Era uma canção altamente subversiva, oito quadras violentíssimas. A primeira era assim: "Português, ó malmequer/ em que terra foste semeado/ Português, ó malmequer/ Cada vez andas mais desfolhado". Os censores queriam que eu cortasse a palavra "português", mas se o fizesse aquilo perdia o sentido. Continuei como se nada fosse e eles ameaçaram-me. Puseram dois censores no camarote do teatro para vigiarem se eu cumpria as ordens da censura. Mas como entretanto saiu o disco, eles desistiram.

A - Vamos para o presente. Temos bons autores de humor?
RS - Sempre tivemos bons autores e bons cómicos, mas o humor é dinâmico, as coisas mudam. Andei a pesquisar rábulas antigas e constatei que o humor nos anos 40 e 50 era muito frágil. Hoje temos autores em qualidade e quantidade, a fazerem excelente humor. Eles têm outra cabeça, já não pensam como os autores do meu tempo. Dadas as condições existentes, o panorama podia ser melhor, mas é um género muito difícil.

A - Onde está a dificuldade?
RS - Eu pergunto: porque razão existem no mundo milhões de actores e só temos 50 bons cómicos? Como dizia o António Aleixo, nós precisamos de ver as coisas mais além. Está aí a dificuldade.

A - Os cómicos, para fazerem rir, têm de ver mais longe?
RS - Eu sempre disse que os cómicos são tristes e sisudos porque têm mágoas profundas. Nós temos de ver o ridículo com uma lupa muito grande e isso magoa. É por esse lado que vemos mais longe.

A - E quanto ao humor fácil?
RS - Isso não é comigo. Fui convidado para o programa "Cabaré da coxa" e perguntaram-me porque razão eu não gosto que os cómicos usem palavrões. O tipo que faz de papagaio soltou logo uma série de palavrões e ficámos todos a rir. Não foi humor fácil, foi alguém que desorganizou aquilo tudo. O cómico é um desorganizador por excelência. Mas tenho pena do público que se ri dos palavrões. Tenho imensa pena de um cómico que precisa de dizer palavrões para provocar o riso.

A - E os seus textos?
RS - Eu ao nível to texto traduzi muitas peças, escrevi "Há petróleo no Beato" e adaptei, com o César de Oliveira, "Isto é que me dói", uma peça do brasileiro Paulo Pontes que é uma crítica violentíssima ao nosso sistema de saúde.

A - E a guerra...
RS - Foi apenas uma tradução com ligeiras adaptações. Eu só interpretei essa rábula três anos e os seus ecos chegam aos dias de hoje.

A - Face ao sucesso estrondoso que teve, porque abandonou essa rábula?
RS - Um dia fui ao Barreiro fazer a guerra e o público sabia o texto de cor, os espectadores começaram a fazer de ponto. Depois chegava a outro sítio e toda a gente dizia o texto antes de mim e eu pensei que era melhor parar. Por muito dinheiro que eu ganhasse com a rábula - e se ganhei! - não queria ficar agarrado àquele boneco. Profissionalmente, fui sempre muito inquieto.

A - Está a representar no Villaret, que já foi o seu teatro...
RS - O meu sonho era ter um teatro meu, para fazer o que quisesse, nunca quis ser empresário. Investi tudo o que tinha no Villarett e perdi tudo. No 25 de Abril eu estava na Roménia e mal soube da revolução vim logo para Portugal. No Brasil estava a fazer grande sucesso a peça "Liberdade, Liberdade", do Millôr Fernandes, que é o maior humorista do mundo. Havia bichas infindáveis para ver a peça, que tinha o Paulo Autran no papel principal. Mandei vir a peça para cá. Tinha no elenco a Maria do Céu Guerra, o João Perry e o Sérgio Godinho. Aquilo batia em tudo que estivesse contra a liberdade, fossem os americanos ou os soviéticos. Havia bandeiras vermelhas por todos os lados, uma coisa muito bonita. Mas foi um fracasso tão grande que perdi tudo o que tinha e o próprio teatro...

A - Como se explica isso, num momento em que a revolução saiu à rua?
RS - A peça subiu à cena numa altura em que já se desenhava o crepúsculo da revolução. Foi a minha ruína económica.

A - E o seu novo espectáculo, também no Villarett?
RS - Está a correr bem. Os espectadores acompanham a minha memória de 50 anos de carreira. Há umas fotos que fazem de âncora da memória e depois eu digo o que me vem à cabeça. Os miúdos - vão imensos! - gostam porque não sabiam que as coisas antigamente eram assim.

A - É um tributo a si próprio por meio século de carreira artística?
RS - Este espectáculo é para percorrer o país e conhecer melhor o público. Portugal é uma maravilha, encontro pessoas fabulosas, come-se e bebe-se bem. Isto é para trabalhar mas também é para me divertir. Quero andar por aí a conhecer pessoas que tenham algo para me ensinar.

A - Mas Portugal está a passar um mau bocado...
RS - Pois está. Neste momento, se não fizéssemos parte da União Europeia, Portugal estava como o Uganda e nas próximas presidenciais era eleito um sargento para Belém. Mas a democracia portuguesa está amparada pelas estacas da União Europeia, é irreversível.

A - Mas não há demasiado ódio à liberdade?
RS - Eu tenho uma paixão imensa pela liberdade. Aliás, acho que o amor àliberdade já nasce com as pessoas e eu nasci com esse amor. Pelo que conheço dos portugueses, penso que, apesar de tudo, ainda existe uma imensa maioria que tem a paixão da liberdade e da democracia.

A - Já alguma vez esteve na política?
RS - Eu fui militante do Partido Socialista durante dois anos. A seguir ao 25 de Abril, entendi que era um dever cívico aderir a um partido e lutar pelo regime democrático. Participei em comícios de norte na sul de Portugal. Quando foi aprovada a Constituição e elegemos os deputados à Assembleia da República abandonei o partido. Penso que um actor não deve ter actividades partidárias. Antes quebrei essa regra porque a democracia assim o exigiu.

A - A crise económica não pode pôr em causa o regime democrático?
RS - Não pode, temos o dinheiro da União Europeia a proteger-nos. O fascismo é uma coisa baratucha. O ensino, a saúde, os salários, o partido único, as eleições a fingir, é tudo muito barato. A democracia fica caríssima. Nós exigimos elevados padrões na educação, na saúde, na Administração Pública, queremos salários dignos, elegemos os nossos representantes no Poder Local e na Assembleia, elegemos o presidente da República, tudo isso fica muito caro. E depois temos por aí uns senhores que adoram dinheiro, gostam de coleccionar aquela porcaria. Se não estivéssemos na União Europeia a democracia já há muito estaria em perigo.

A - E a si, como é que a crise lhe bate à porta?
RS - A mim, a crise económica não me afecta, porque nunca tive um projecto de fortuna, o meu projecto é de felicidade. E a tal paixão pela liberdade que sempre me acompanhou.

A - Como vai a Casa do Artista?
RS - É um projecto ao qual dedico grande parte do meu tempo. Agora sou o presidente da Direcção e por isso tenho de seguir de perto os seu dia a dia. Isto foi uma ideia que me assaltou desde os tempos do Brasil. Lá havia o Retiro do Artista, mas eu achava que a palavra "retiro" era muito forte e quando, em 1960, apresentei o projecto aos meus colegas, já foi como Casa Artista. A ideia andou a germinar durante muitos anos e, um dia, o Armando Cortez decidiu pô-la em prática. Durante a direcção dele eu vinha aqui todos os dias ajudá-lo. Em quatro anos mobilámos estes 12 000 metros quadrados com coisas que nos foram oferecidas! Mas quando ele começou a ficar muito doente, pediu-me para eu assumir a direcção e cá estou.

A - E apoios?
RS - Temos apoios públicos e de particulares. Isto só por si não anda. A factura de gás e electricidade é superior a mil e quinhentos contos por mês. As reformas dos 73 utentes são muito baixas, temos que encontrar apoios que, felizmente, não têm faltado. Ultimamente até temos doações de particulares em dinheiro e propriedades.

Artur Queiroz

Definição do HUMOR

Definição de Humor segundo a wikipedia


Humor do latim humore é uma forma de entretenimento e de comunicação humana, para fazer com que as pessoas riam e se sitam felizes. As origens da palavra "humor" assentam-se na medicina humoral dos antigos Gregos, que é uma mistura de fluídos, ou humores, controlados pela saúde e emoção humanos.

Na indústria do entretenimento, dá-se o nome de humorista aos profissionais do humor, qualquer que seja o meio de comunicação em que este actua. A televisão (Herman José, Jô Soares...), o teatro e o cinema (Charles Chaplin, Buster Keaton, Jim Carrey...) têm um lugar privilegiado, mas também os livros (José Vilhena, em Portugal), revistas e jornais podem ser um terreno fértil para a arte de fazer rir.

O humor pode ser a chave para a compreensão de culturas, religiões, costumes, enfim para toda sociedade no sentido mais amplo. Sendo um elemento vital para a condição humana, o humor disseca a vida e as maneiras da sociedade humana através dos séculos. O riso se transforma através do tempo assim como os costumes e as correntes de pensamento. De época para época, os pensamentos se assemelham ou se diferem, e o humor acompanha essa tendência.

Apesar de uma aparente regionalidade e temporalidade, o humor é universal e atemporal. Ele se transforma através do tempo e do espaço acompanhando a história humana. O humor possibilita o aprimoramento de idéias, o alargamento da percepção e a construção da visão crítica. É através do humor que o sujeito aprende a subverter a lógica e atravessar as fronteiras do óbvio. A subversão é revelada através do inconformismo, do rompimento com as regras estimulando - e sendo estimulado - pela criatividade.

?Poderá surpreender que o humor constitua uma virtude? diz André Comte-Sponville. E ele próprio dá uma resposta: ?O humor é uma desilusão alegre. Nisto ele é, ou pode ser, duplamente virtuoso: como desilusão, raia a lucidez (e, portanto, a boa-fé); como alegria, raia o amor, raia tudo.?

Apesar de o humor ser largamente estudado, teorizado e discutido por filósofos e outros, permanece extraordinariamente difícil de definir, quer na sua vertente psicológica quer na sua expressão, como forma de arte e de pensamento. Na verdade, o que é que o distingue de tantos outros aspectos do cómico, como a ironia ou a sátira?

A ironia não é uma virtude. Consiste em não dar às palavras o seu valor real ou completo, querendo significar o contrário do que se diz. Ou seja, a ironia é uma simulação subtil de dizer uma coisa por outra. Ao pressupor uma atitude mental ágil, pela recusa da passividade perante uma imposição do objecto cujo valor põe em causa, possui uma linguagem que não se encontra ao alcance de todos criando um círculo especial dentro do qual deseja ser entendido. A ironia não pretende ser aceite, mas compreendida e interpretada.

Para Sócrates, a ironia é uma espécie de docta ignorantia, ou seja, ignorância fingida que questiona sabendo a resposta e orientando-a para o que quer que esta seja. A ironia de Sócrates pressupõe malícia e desconfiança simulada nas próprias capacidades.
Em Aristóteles e S. Tomás de Aquino, a ironia não passa de uma forma de obtenção de benevolência alheia pelo fingimento de falta de méritos próprios.
A partir de Kant, assentando na ideia idealista, a ironia passa a ser considerada alguma coisa aparente, que como tal se impõe ao homem vulgar ou distraído.
Para André Comte-Sponville, ?é o riso mau, sarcástico, destrutivo, o riso de troça, aquele que fere, que pode matar (?)?. A ironia pode estar virada contra o Eu, sendo denominada auto-irrisão, ou contra os outros, lançando a sua impiedade na tentativa de os dominar e humilhar.

Corrosiva e implacável, a sátira é utilizada por aqueles que demonstram a sua capacidade de indignação, de forma divertida, para fulminar abusos, castigar, rindo, os costumes, denunciar determinados defeitos, melhorar situações aberrantes, vingar injustiças? Umas vezes é brutal, outras mais subtil.
Como já se analisou, abusivamente são incluídos no humor toda a espécie de cómico. Mas estamos, agora, preparados para distanciá-lo da ironia e da sátira. Ora, o que individualiza o humor é a simpatia que obtém do Homem, inerente a si pela implicação de aspectos intelectuais e emocionais na sua compreensão, e também a sua profundidade e reflexão interior.

O humor é determinado essencialmente pela personalidade de quem ri. Por isso, pode-se pensar que o humor não ultrapassa o campo do jogo ou os limites imediatos da sanção moral ou social, mas este pode subir mais alto e atingir os domínios da compreensão filosófica, logo que o emissor penetre em regiões mais profundas, no que há de íntimo na natureza humana, no mistério do psíquico, na complexidade da consciência, no significado espiritual do mundo que o rodeia. Pode-se, assim, concluir que o humor é a mais subjectiva categoria do cómico e a mais individual, pela coragem e elevação que pressupõe. Logo, o que o distingue das restantes formas do cómico é a sua independência em relação à dialéctica e a ausência de qualquer função social.
Trata-se, portanto, de uma categoria intrinsecamente enraizada na personalidade, fazendo parte dela e definindo-a até. É por isso que se diz ?Há tantos humores como humoristas.?.

De facto, o humor provém de uma atitude do espírito que nos permite enfrentar a realidade fazendo sobressair os seus aspectos cómicos ou pitorescos. O humor revela a agilidade e a lucidez da inteligência de quem o possui, mas também a liberdade que este necessita demonstrar que possui. É por isto mesmo que o humor implica uma certa reserva. Pode ser uma defesa, pois pode ser usado pelo psiquismo para a rejeição do que o ofende ou oprime, dominando o horror, atenuando o carácter severo das coisas sagradas e reduzindo às justas proporções os acontecimentos preocupantes.
O humor negro pode desempenhar, neste sentido, um papel importante. Não respeita nenhum tabu, pelo que reveste muitas vezes um carácter odioso para quem não ?aprecia o seu sal?. Com este humor, o riso brota do sério, da própria inquietação moral.

Hoje em dia, o humor (talvez mais a ironia e a sátira) é muito estimado e respeitado, o que se pode verificar pela sua utilização constante na televisão, tanto em publicidade, como em vários programas televisivos. No entanto, não é só pelo prazer que este nos dá, que o humor é apreciado, é também pela sua capacidade de transformar a seriedade da vida em algo que nos é mais fácil aceitar.

Assim, disfarçando a seriedade que, no entanto o caracteriza, o humor destrói o ódio, a cólera e o ressentimento. Por isso, o humor tem a capacidade de modificar as disposições do Homem: a tristeza em alegria (por exemplo, as graças em relação ao desastre de Entre-os-rios), a desilusão em cómico (as piadas sobre Carlos Cruz e o caso Casa Pia), etc. ? ?Não ter humor é não ter humildade, nem lucidez, nem ligeireza, é ser demasiado cheio de si, é estar iludido consigo mesmo, é ser demasiado severo ou agressivo, e por isso carecer quase sempre de generosidade, doçura, misericórdia?? (COMTE-SPONVILLE). Concordo com esta afirmação, pelo que considero que o humor é uma importante virtude, por ser essencial à existência de outras virtudes. ?De que vale o amor sem alegria? De que vale a alegria sem o humor?? (COMTE-SPONVILLE).

Penso que uma pessoa que careça de humor, não pode ser humilde por não se aceitar a si próprio como é. Uma pessoa sem humor, não pode, também, ser generosa pois, se não se aceita a si próprio, não será capaz de se ?dar aos outros?. No entanto, uma pessoa que careça de humor, pode ser, por exemplo, corajosa ou justa sem para isso necessitar do humor. ?Existe coragem no humor, existe grandeza, generosidade? (COMTE-SPONVILLE). É por isto que o humor não é uma virtude cardeal, mas sim uma ?virtude anexa (?) ou compósita, virtude ligeira, inessencial?, como diz André Comte-Sponville.

Aceito, ainda, a análise que Comte-Sponville faz do humor como virtude em ?O pequeno tratado das grandes virtudes?. Aí, este diz que o humor é uma virtude estranha, por apenas querer ser engraçada esquecendo a moral, o que, no entanto, não justifica que este não seja uma qualidade preciosa e essencial ao Homem. Apesar de ser uma espécie de cómico, o humor não esquece a seriedade, pelo que transforma a situação desesperada numa situação de gravidade menor. Em vez de humor, S. Tomás de Aquino utiliza a palavra ludus querendo esta significar a graça, a jovialidade e leveza no falar e no agir que tornam descontraído, acolhedor, divertido e agradável o convívio humano. Considera também que é uma virtude da convivência, do relacionamento humano.

?Ludus est necessarius ad conversationem humanae vitae.? ? ?O humor é necessário para a vida humana.? (S. Tomás de Aquino) Através desta afirmação, infiro que, da mesma maneira que o sono está para o repouso corporal, também o humor está para o repouso da alma. Penso que esta analogia entre o sono e o humor é bastante explícita, no que diz respeito à importância do humor na vida do Homem. É por isto, que o humor é considerado, por S. Tomás de Aquino, um bem útil. Mas, assim como este, também penso que se deve usar o humor constantemente na nossa vida, tendo em atenção que este necessita de um controlo, tanto ao nível do conteúdo, que deve ser moralmente correcto, como ao nível do momento, lugar e pessoas envolvidas.

No entanto, S. Tomás de Aquino considera ainda que o humor pode ser um vício por excesso, ou seja, por falta de controlo e medianiedade no uso deste. Aqueles que exageram no brincar tornam-se inoportunos, por quererem fazer rir constantemente, ao invés tentarem não dizer algo imoral e mesmo agressivo para com aqueles a quem a ?brincadeira? é dirigida. O humor pode também ser um vício por ausência deste. Aqueles que carecem de humor, irritam-se com os que o usam e tornam-se ?frios? e distantes, não deixando a sua alma repousar pelo uso do humor. Como no meio é que está a virtude, aqueles que usam convenientemente o humor, têm a capacidade de converter as coisas que se dizem ou fazem em riso.

Herman Sic sem bolinha...


?É um bocado difícil endireitar, mas é preferível fazê-lo a deixar como estava. Era um beco do qual não conseguiria sair. Quem desce tão baixo, depois é difícil levantar voo. Precisa de fazer uma purga?,
diz Cintra Torres, para quem o regresso aos personagens que celebrizaram Herman José não passa de um ?tapa buracos?:
?É um remendo. Pode ser que consiga, porque tem qualidades como ?entertainer? e humorista, mas será muito difícil.

?Quanto à decisão de retirar a ?bolinha vermelha? ? indica conteúdo para adultos, localizada no canto superior direito do ecrã ?, o crítico enaltece a posição de Francisco Penim, director de programas de Carnaxide, sem, no entanto, apontar o dedo ao estado a que ?Herman SIC? chegara:
?É uma decisão que reverte a favor do canal. Numa televisão generalista, os telespectadores esperam conteúdos generalistas. O programa estava com um imaginário gay muito acentuado, com uma linguagem ordinária.?

E soluções?

?Um político seria um sinal. Basta ver quem eram os convidados. Andavam muito próximos dos limites do aceitável, como a Linda Reis?, conclui.

'A PRIVAÇÃO AGUÇA O ENGENHO'

CM ? Já recebeu algum ?feed back? da direcção de programas?

HERMAN JOSÉ ? A direcção de programas tem mais que fazer do que distribuir ?reacções do dia seguinte?. Não fariam outra coisa na vida. (risos)

? Houve uma leve subida nas audiências. É efeito da mudança?
? Em quase seis anos de ?Herman SIC? passei por todas as fases. Cada emissão é um caso atípico e portanto nada passível de comparações.

? Ter pouco tempo para gravar ?sketches? de humor, dificulta a tarefa de criar personagens?
? Dificulta, mas não impossibilita. Quem depende de um mercado pequeno e em crise, tem obrigação de se adaptar. Muitas vezes, a privação aguça o engenho.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Ana Bola

Ana Bola: "O humor está melhor... e está pior"

A autora e actriz de "Celadon" diz que o humor na televisão está uma "desgraça".

A Ana Bola trabalhou alguns anos num escritório. Isso não se coaduna em nada com a sua personalidade.

Nada, nada... Embora eu fosse muito cumpridora e tinha mesmo que ganhar aquele dinheiro.

Quando é que se convenceu que queria ser actriz?

Convenceram-me. Eu sabia que estava mal ali, sabia que gostava do espectáculo. Era uma espectadora regular de teatro e de cinema. Eu não sabia exactamente o que é queria, mas sabia que era por ali. Os meus amigos da altura eram todos ligados à música ou ao teatro. Foi mais fácil ainda perceber que gostava daquele mundo. Um dia convidaram-me e eu aceitei.

Começou a trabalhar com Herman José em "Humor de Perdição". Quando é que se cruzou com ele pela primeira vez?

Cruzamo-nos pela primeira vez em televisão em 1980, no "Passeio dos Alegres" do Júlio Isidro. Nós éramos jurados nesse concurso e empatizámos logo desde esse momento. Mais tarde encontramo-nos também no Tal Canal porque o meu marido tocava com ele na banda do programa. A dada altura convidou-me para fazer rádio com ele e a partir daí ficamos inseparáveis.
Uma amizade e uma colaboração profissional de mais de 20 anos...Exactamente. Uma características que todos partilhamos é conseguirmos ser amigos uns dos outros.


Como é que tem evoluído o humor em Portugal?

Está melhor... e está pior. Se falarmos de televisão está uma desgraça, se tirarmos aquelas ilhas que funcionam em alguns canais alternativos. Há principalmente programas de anedotas coladas umas às outras, onde os actores vão sobreviver. No teatro parece-me que começa a mexer mais qualquer coisa ao nível da comédia. Durante muitos anos foi considerado um estilo menor e agora isso foi posto de parte.

Como foi a experiência de fazer dobragem no ?Paraíso da Barafunda??

Isso adoro. Até faço de graça. Tinha feito algumas dobragens na Rua Sésamo e acho que é uma das coisas mais divertidas.

Luís André Florindo

terça-feira, janeiro 17, 2006

Gato Fedorento e Pionés

Temos direitos sobre as peças e, por isso, vamos continuar a transmiti-las, afirmou ao CM Vítor Figueiredo, director de programas da SIC Radical, que, apesar de não conseguido manter o Gato no canal, mostra-se satisfeito por ter chegado a uma televisão generalista:
Estarem onde estão só prova que nós fizemos um bom trabalho. Gostava de os ver na SIC generalista, porque assim continuavam na família.?

Os episódios do Gato Fedorento, transmitidos pelo canal, serão repetições das séries já produzidas pelo quarteto Meireles e Fonseca.
Na apresentação da grelha de programas do canal, Vítor Figueiredo deu a conhecer a aposta deste ano no humor nacional: Para preencher o vazio deixado pelo Gato Fedorento, a estação foi buscar um trio de novos humoristas das Caldas da Rainha.

Pionés é o nome do programa que, de acordo com o director, é a cara da estação para este ano. A série de humor, de 15 episódios, tem estreia marcada para sexta-feira.
Vítor Figueiredo afirma que, ao contrário do Gato Fedorento, Pionés é uma série com um humor mais complexo, mais rico, que não abrange todas as pessoas.

Questionado pelo CM, se as audiências podem ser afectadas pelo facto do humor apresentado ser mais restrito, o director de programas não se mostrou muito preocupado: O canal não vive das audiências.

Somos um canal-laboratório que quer dar lugar a novos talentos. Na apresentação, realizada numa cervejaria em Carnaxide, assistiu-se a um aperitivo do que se poderá ver na televisão. Um homem nu invadiu o local, tal como acontece nos jogos de futebol com os ?streakers?

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Novo projecto na Radical

"Pionés", é um novo projecto humoristico que vai arrancar na SIC Radical.
Um grupo das Caldas da Rainha que vão tentar ocupar o lugar deixado vago pelo Gato Fedorento.

sábado, janeiro 07, 2006

Projectos

Fico á espera dos projectos já anunciados para este ano e principalmente para dois do Canal 1.
O novo projecto do Gato Fedorento, e o novo programa do Aldo Lima.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Opiniões

Qual a tua opinião sobre o programa da SIC Comédia : O Prazer dos Diabos?

Votações

Foram criadas 2 votações nas quais vocês podem dar as vossas opiniões.

Qual o melhor programa de humor?

Qual são os humoristas que vocês mais gostam?

terça-feira, janeiro 03, 2006

O primeiro

O objectivo deste blog não é ter piada, mas sim falar sobre ela.
Falar sobre o humor em Portugal e em quem o faz.

Iniciemos então este blog.