Comédia em Portugal

Um olhar sobre a Comédia em Portugal.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Joaquim Monchique

Jornal de Notícias|Vai integrar o júri do programa "Aqui há talento". O convite marca o regresso à estação pública?



Joaquim Monchique|Bem, eu comecei na RTP, no programa "Grandes Noites" do Filipe La Feria e tenho com esta estação e com os seus responsáveis as melhores relações. No entanto, não vou regressar à RTP porque o meu contrato é com a produtora do "Aqui há talento" e não com a RTP.



Mas vai regressar aos ecrãs da RTP. Por que aceitou o convite?

Sim, vou regressar e estou bastante entusiasmado, porque acredito sobretudo na "filosofia", na qualidade e no interesse do programa. Quando me convidaram para integrar o júri eu já conhecia o formato, depois vi imagens do programa na França, nos EUA e na Austrália e confesso que gostei ainda mais.



Concorda então com programas deste género caça talentos. Acha que as nossas televisões deveriam ter mais formatos desse tipo?

Acho muito importante a realização de programas assim, porque é uma forma de desvendar os talentos. Há por aí muito boa gente fantástica, que sabe fazer coisas interessantíssimas e muitas vezes não tem oportunidade de as demonstrar. Julgo que se perde muito tempo em exibir programas sem história, em que as pessoas estão metidas numa casa à espera que aconteçam zangas e tricas, o que é um desperdício de tempo e de antena.



Nos últimos anos, deu a cara pela SIC, designadamente no programa do Herman. Saiu de relações cortadas com a SIC? E com o Herman José?

Não, de maneira nenhuma. Não corto com ninguém e muito menos com a SIC, onde tenho excelentes recordações e onde me diverti e trabalhei com muito prazer. Além do mais sou grande amigo da Teresa Guilherme, da Direcção de Programas, pela qual tenho muita consideração. E quanto ao Herman é um dos meus maiores amigos, falo com ele todos os dias e a nossa amizade é inabalável. Trabalhei com ele dez anos e, portanto, obviamente que continua a ser um dos meus grandes amigos. Nunca esquecerei a minha "família televisiva" que, além do Herman José, integra a Maria Ruef, o Manuel Marques, a Maria Vieira e a Ana Bola.



Não põe de parte voltar à SIC e a um programa do Herman?

Não, claro que não. Como já disse, não tenho vínculo com a RTP, agora vou fazer o "Aqui há talento", mas daqui a um ano já posso trabalhar de novo com o meu amigo Herman.



O seu futuro passa pela televisão? Sente-se bem no ecrã?

Eu gosto muito de fazer televisão e gosto principalmente de trabalhar como actor humorista, portanto, gostaria de continuar. Mas também confesso que tenho um sonho que é o de participar numa telenovela.



Nunca fez novela? O que o atrai nesse trabalho?

Nunca fiz e confesso que gostaria de participar, tenho muita curiosidade. Se porventura gostasse do papel que me atribuíssem, aceitaria. É um sonho meu.



Você é conhecido essencialmente pelo seu trabalho como actor humorista. Quer continuar nessa área?

Confesso que gosto bastante de fazer o que faço. O bem melhor que há é o riso e a seguir são as palmas, portanto, dito isto, naturalmente, que quero prosseguir neste divertido e fascinante mundo do humor.



Acha que em Portugal temos bons humoristas? Quem são eles?

Acho que sim, as pessoas gostam de rir e nesse sentido considero que se o humor tiver qualidade terá futuro. Também acho que temos muito bons humoristas e não posso deixar de destacar os "Gato Fedorento", que são, na realidade, formidáveis. Eu já os conhecia, porque muito do sucesso que nós obtivemos no "Herman SIC" deve-se a eles que eram os autores de muitos dos textos. Portanto, é evidente que considero que os "Gatos Fedorento" são, indiscutivelmente, a grande revelação e que vieram dar um impulso grande ao humor que se faz no nosso país.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Bruno Nogueira

Como descreves o espectáculo?

Em stand-up comedy nunca há muito para explicar, além dos temas que se vão revelando ao longo da peça. Quis fazer uma coisa mais trabalhada, era a minha possibilidade de fazer um espectáculo de minha total autoria. Chamei o arquitecto João Mendes Ribeiro, com quem já tinha trabalhado na peça Avalanche - tinha adorado os cenários dele. No guarda-roupa, socorri-me do Dino Alves. De resto, quis que fosse uma coisa minha. Tenho o apoio do João Quadros no texto. Tem um ?vivo? no princípio, outro lá mais para a frente. Agora é distribuir isso por uma hora e pouco de espectáculo.

Afastaste-te da televisão. A tua intenção é agora investir neste tipo de espectáculo?

Deixei de fazer televisão porque, hoje em dia, não consigo ver nenhuma coisa onde ache que ia acrescentar algo. Teatro e stand-up comedy são coisas que sempre fiz, paralelamente ou não à televisão. Além disso, um espectáculo como este exige muito tempo. Para criar tudo de raiz, para estar a escrever o texto há três meses e meio como eu estou, estar a ter ideias para luz e tudo o resto, requer algum tempo quando se quer fazer bem. E eu quero fazer bem.

Como nasceu a ideia?

Sempre quis fazer alguma coisa mais a sério. Mas quis que passasse um bocado a vaga da moda da stand-up comedy. Agora acho que já acalmou essa euforia, de aparecer um humorista debaixo de uma pedra em cada cinco minutos. Não temos um país para tanta coisa. Portanto, muitas das coisas que estão a aparecer é só lixo. Preferi que isso acalmasse e preparar uma coisa cuidada para quem gosta de me ver fazer stand-up comedy. E são essas pessoas que eu penso que virão ver o espectáculo.

O que representa este passo na tua carreira?

Isto representa um grande desafio, porque é estar a trabalhar sem rede nenhuma. Em primeiro lugar, porque o texto é meu e nunca foi testado. Eu e o [João] Quadros estamos tão envolvidos no texto que já não sabemos o que funciona ou não, o que só faz rir a nós.

Depois, como sou eu que estou a tomar conta da encenação, das luzes, de tudo, é um projecto totalmente meu. Não é megalómano, nem eu queria que fosse, porque se cair não quero cair lá muito de cima. Vou ser avaliado no dia de estreia. Quer corra bem, quer corra mal, já estou contente por ter conseguido juntar a equipa que juntei e por aquilo que consegui fazer.

Sentes-te pronto para o desafio?

Sinto-me um bocado nervoso, até porque não tenho ninguém a quem atribuir as culpas. Estamos sozinhos ali em cima, com toda a gente a olhar para nos e à espera que os façamos rir. Mas sinto-me preparado. Pelo menos agora sinto-me mais. Aqui há dois dias ainda estava um bocado em pânico.

Há público em Portugal para um espectáculo de stand-up comedy?

Tenho a certeza absoluta que há público para stand-up comedy. Há público para comédia, para bons espectáculos, para maus espectáculos. Há público para quase tudo. Só que as pessoas não são estúpidas. Vão ver uma vez, e depois o que funciona é o boca a boca. Se vão ver e não gostam, não vão dizer a outra pessoa que gostaram. Há muitas produtoras que insistem em dizer que há uma crise de público em Portugal. Não acho. Acho é que há espectáculos que são simplesmente maus.

Vais fazer um espectáculo mais de intervenção ou do riso pelo riso?

Há coisas que eu tento evitar, nomeadamente política e futebol. Não consigo fazer o chamado humor de ?tarte na cara?. Gosto de levar as pessoas a pensar, até porque sinto que elas ficam mais interessadas se virem que podem interagir. Serei interventivo em alguns temas, mais forte em outros. Em televisão é preciso ter jogo de cintura para agradar a todos. Aqui não tenho preconceitos nem filtros no que me apetece dizer.

Estás contente com o resultado?

Estou muito contente. Tenho pena de não ter começado a testar o espectáculo mais cedo, para saber como o poderia gerir melhor. Mas foi um processo muito duro de escrita e produção. Só tenho de acreditar em mim e nas pessoas que já vieram ver.

Tens agora esta temporada no São Luiz. Mais tarde, o espectáculo pode seguir para outros sítios?

Há duas coisas pensadas. Hei-de ir em tournée assim que acabar aqui no São Luiz. Já estamos a tratar disso. Depois, se correr bem, hei-de voltar aqui para fechar esta primeira metade do ano. Gostava de fechar no São Luiz, onde sempre me habituei a trabalhar e onde sempre me trataram tão bem.